23.1.08

é a força bruta da palavra


matam_se palavras
duras
cruas
nuas
tolas
amachucam_se
letras
vivas
adormecidas
espreita_se
como se de um etecétera se tratasse
palpável
sem cheiro
aparente
sublinham_se
pontos finais
reticências
interrogações
arriscam_se
os verbos
adjectivos
e metáforas
aviva_se o negro
dor
mágoa
lágrima
cinza
faz parte
da verdade
sem abecedário
não se respira
é a força bruta
da palavra

piano


até que dava por mim na antiga sala de convívio no segundo andar de volta de um piano. desafinado claro. mas era nessa hora que as tardes de domingo soavam mais alto. desertava-me por entre as teclas como se fosse um longo corredor . no final uma imensa escadaria a preto e branco que me conduzia a um suposto céu. novamente os neutros. sentia-me à vontade. e inventava-me vestindo a pele de uma grande pianista .era uma das melhores. dentro do género claro. não precisava de grandes claves. eram notas soltas. era um musical que me transportava até às portas do paraíso. em paz. com onze anos apenas já sabia tocar piano. gostava de sentir o frio das teclas nos dedos. de vez em quando deixava correr a palma da mão pelo teclado todo. e de repente tinha uma freira à porta a mandar-me calar. mas por fugaz que fosse o meu momento de glória essa espécie de música nas tardes de domingo acompanhava-me.
extracto do post como o fumo de 30 de novembro de 2007

resta___me

soltam___se___me
notas sem pauta



numa clave sem sol
em tom de presente quase mais que perfeito






resta____me
o cinza de janeiro
para todos os dias de um ano






21.1.08

depessoa demim

de pessoa
sei bem
que nunca serei ninguém
sei de sobra
que nunca terei uma obra
sei enfim
que nunca saberei de mim
sim mas agora enquanto dura esta hora
este luar estes ramos
esta paz em que estamos
deixem_me crer
o que nunca poderei ser




de mim
sem tinta
pinto
com
pinta
pintando
a escrita
dita
desdita
maldita

20.1.08

o agora não há


e o agora?
o agora não há.



no final do jantar uma amiga confessou_me que estava apaixonada. fazia uma semana. lógico que perguntei por quem. até conheço. nada de interessante. pensei. alguém que algum tempo achou que seria inevitável eu conseguir apaixonar_me também. azar. nestas coisas de paixão ou é ou não. não adianta forçar. é que não tinha nada a ver comigo. então para quê embarcar em aventuras que à partida não quero ter? nem no minímo interessante seria. a excepção seria o de em comum pintarmos e escrevermos. mas nem assim valeria a pena. para quê avançar nestas coisas de amor sem sentido. do lado oposto achei que era uma questão de solidão.
mas eu não combato a minha solidão com aventuras amorosas. nem com as desamorosas quanto mais.
além de ser tempo perdido nada se ganha a não ser uma grande ralação. e é um risco desnecessário. sai_se ainda mais magoada do que quando se entra. e mágoa por mágoa é preferível estar assim. sossegada.
faz muito tempo que não amo ninguém. faz muito tempo também que nada sinto por alguém. faz algum tempo também que combato o que possa vir a sentir. e nesta luta não há inimigo. nem batalha a vencer. limito_me a dizer não ao que sinto e talvez ao que possa vir a acontecer. mas sei que nada nunca me acontece. porque deveria? se eu continuo impávida e serena no meu canto à espera de nada. nada faço. nada digo. então como mudar o rumo das coisas?nem coisas há. nem rumo.


no final do jantar apercebi_me. e senti_me mal. fiquei com tamanha tristeza que era impossível continuar que conversa fosse. limitei_me a pegar no carro e a regressar a casa muito rápido. porque é que os outros tornam tudo tão fácil? em questões de amor será que a complicada sou eu? apetecia_me ser diferente. para variar. num dia que fosse só. e nesta batalha que travo não há armas. sinto_me desprevenida. e quando me sinto atacada fujo. tão rápido que todos ficam sem perceber o que se está a passar. nem eu o sei. quanto mais.



parece fácil. não o é. agora. e o agora? não há.

19.1.08

carta fechada registada sem aviso de recepção

agora me lembro que há coisas que nunca te disse. não esperes que as vá dizer. o ficar calada protege_me. mas há horas em que não me seguro. e o dizê_las é como encalhar num porto sem abrigo.
daí ser_me mais fácil na palavra.mas nas letras nem tudo o que parece é. o que às vezes parece ser talvez não seja. apesar disso pode ser o que quiseres.
a palavra passa. só o sentir permanece.e é esse estado que alimento.porque é na memória de ser que percorro os dias.e as manhãs. como detesto as manhãs. e os amanhãs. e os depois de amanhã. porque o café é sempre só. e o cigarro desacompanhado.
se possível só saio após. e aí tenho a tarde. igual. só na noite me aconchego. no sossego.
não te quero. porque te quero. e o querer_te torna_se insuportável. que me fazes falta. fazes. quando não estás. e esse sentir cresce. e não é suportável.
por isso não te digo nada.falar de sentidos quando nada faz sentido. que disparate. sem ti não há sentido.
ou há?

porque não?

vou ser nua e crua
porque me apetece ser
directa nunca
omissa talvez

porque sim
porque te quero
porque sim
porque te desejo
e porque não?
talvez...

17.1.08

de a fonte amor e infância

fotos de geoffroy demarquet
poemas de joão moita




mora_me uma solidão nos dedos
que se desvanece quando toco o rosto do poema


amo_te em silêncio

e espero que o teu rosto se apague entre as minhas mãos

o amor é um poço tão fundo






trago num bolso a atiradeira
e no outro o peso do mundo
balanço_me num difícil equilíbrio

16.1.08

levanto___me?


a espera sem fim
deses____________pera

alinho_me
à_______linha

desatino
des_________tino



levanto_me?

13.1.08

espera por mim


agora me dizes
que o céu é pleno
e esperas por mim

um dia
irei abraçar_te aí

olhas_me
do alto da tua torre eterna
esperas_me

e de tão pequena
sou tamanha
e respiro comigo
a dor de ti
dou por mim
assim
sim


abraço_te
espera por mim.

10.1.08

acordo_me


acordo_me

e arranco_me do sono
do choro
e do suor
me lavo

levanto_me
e agarro_me na espera
de uma fantástica vinda
em mim

solto_me
com soluço
sem choros
seca
azeda
cinza

caio
não caio?

deixo_me ir
ou fico_me?

sustento_me
sem lamento
com vida

é preciso seguir!

9.1.08

desamor


de dor
de amor
uma
duas
três
quatro
damor
sem sabor
com dor
uma dor
duas dores

desamor

7.1.08

de estátua


de estátua

estática
de tacto
de facto
nua
fria
de pedra
em pé
afago
e dispo
te laço
enleio
enlace
despido
branca
em cinza
perpétua
eterna
e viva
vista
lista
mística
divina
te quebro
e parto
enfim
em ti


que será de mim?

4.1.08

fico_me por aqui e fim


vou
não vou
fico
fico_me
espero
espero_te
desespero
ando
não ando
desando
olho
não olho
olho_te
fecho_me
tranco_me
destranco_me
em cadeia
cadeado
envergonhado
sem hora
na hora
com tempo
de ordem
desordem
num caos
qual cais
vens
não vens
aguardo_te
sem mágoa
com água
nos olhos
chamo_te
mais uma vez
sem vez
cem vezes
no era uma vez
de vez
canso_me
afinal
fico_me
por aqui
e fim