17.2.09







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santiago __ gritou __ que tens tu?
santiago nasar reconheceu_a.
_ mataram_me __ disse ele.
tropeçou no último degrau mas levantou_se logo. teve mesmo o cuidado de sacudir com a mão a terra que tinha nas tripas. depois entrou em casa pela porta de trás que estava aberta desde as seis e desabou de bruços na cozinha.






crónica de uma morte anunciada
de gabriel garcia márquez













fim.

16.2.09

se me dói tanto
mas tanto
que nem imaginas




















dói_me dói_me dói_me dói_me
tanto mas tanto que nem imaginas
dói_me dói_me
tanto
mas dói_me
tanto tanto tanto





dói_me
tanto
mas dói_me
tanto tanto
que nem imaginas





















fotografia de amelka

15.2.09

uma questão de querer voltar_te





eu te proponho nós nos amarmos nos entregarmos nesse momento tudo lá fora deixar ficar eu te proponho te dar meu corpo depois do amor o meu conforto e além de tudo depois de tudo te dar a minha paz eu te proponho na madrugada você cansada te dar meu braço e no meu abraço fazer_te dormir eu te proponho não dizer nada seguirmos juntos a mesma estrada que continua depois do amor ao amanhecer









proposta de simone



























a proposta corre_me de alto a baixo da cabeça aos pés passando_me pela garganta tão fechada sem a conseguir digerir de uma assentada proposta não decente diga_se de passagem mas que tanto desamor teima em fazer correr nas veias correndo sim o risco de as cortar qual banhar em vermelho a escorrer_me por entre os dedos à falta de os pousar na tua pele que sim ainda retenho em mãos por não as lavar mas limpas em suor faz já bastantes dias engulo os pensares a evitar vomitar em raivas ódios ou dissabores de língua que em cada golada acende a azia concentrada no estômago por alimentar é então que saio à rua para apanhar ar parando_se aí a digestão quando não te quis pensar e o facto de não me saíres da cabeça o tempo inteiro dá_me náuseas sem diagnóstico possível sem xanax há tontarias em pé de desequilíbrio e desigualdade mas não caio e não são ataques é a proposta que não há é só uma questão de querer voltar_te.
fotografias de rafal bednarz

14.2.09

merda para isto tudo
















tanto mar tanto deserto
mau passado futuro incerto
não me digas que não


tanto falar em surdina
contigo e só triste sina
só não me digas que não


vou partir vou voltar
reconquistar o prazer
não me digas adeus


vou viver outra vez
renascer vou gritar
nunca digas adeus







nunca mais digas adeus de rui reininho






















a deus pecado meu blasfémia mentira purgatório de infernos em passados e já falei com o outro mundo e então? arrependido bem vindo ao passado queimado cansei_me da beleza barata e palavras grátis. merda para isto tudo.






faz todo o sentido não faz?







não me digas que não

11.2.09

" é um lugar de abandono naufragado. pede_me que lhe diga em que penso."

digo_lhe que já não penso em nada. não quero pensar.
















é a noite que chega agora. diz_me que me lembrarei toda a vida desta tarde mesmo quando tiver esquecido até o seu rosto o seu nome. pergunto se me lembrarei da casa. ele diz_me: olha_a bem. digo_lhe que é como qualquer outra. ele diz_me que sim que é isso como sempre.




o amante de marguerite duras pág. 66














é isso. como sempre. com o tempo apagam_se as memórias do rosto. e até do nome. do rosto do nome do cheiro do toque da casa. gastam_se os sentidos de não os usar. e com o passar do tempo fica quase nada. fica nada. como sempre. é isso. como sempre.

mas revejo ainda o rosto. e lembro_me do nome. vejo ainda as paredes da sala e do quarto. levanto_me para me voltar a levantar e a debruçar_me em nada. não há corpo. não há toque. não há cheiro. não há rosto. não há nome. só há quarto.




"os beijos pelo corpo fazem chorar. dir_se_ia que consolam"
desconsolo agora. não há beijos. não há corpo. não há nada. há quarto.







fotografias de black mirror

8.2.09

não é o que ele quiser
é o que nós queremos








não se esqueça de mim
não se esqueça de mim
não desapareça
que a chuva tá caindo
e quando a chuva começa
eu acabo perdendo a cabeça
não saia do meu lado
segure o meu pierrot molhado
e vamos embolar ladeira abaixo
acho que a chuva ajuda a gente a se ver
venha veja deixa beija seja

o que deus quiser




chuva suor e cerveja de simone

















seja o que tu quiseres se deus não existe e se estivesse vivo era muito velho seja o que tu quiseres mas não te esqueças de mim seja o que tu quiseres mas vem ter comigo para irmos para lá de tudo o que nos dói nos proíbe nos impede neste sem sentido sem fim seja o que tu quiseres mas deus não existe deus que me perdoe esta luxúria com sentido sem ti e não te esqueças de mim vem vê deixa beija o que nos apetece


não é o que ele quiser é o que nós queremos
















fotografias de katia chausheva

4.2.09

estupor de um raio!




esta página contém itens seguros assim como itens que não são seguros.
deseja ver os itens não seguros?
_ estupor de um raio!















_ nunca mais nos vamos amar. nunca mais nos podemos ver.
_ eu sei _ diz ele.
a noite da insistência dela na separação.
ela sentou_se enclausurada em si mesma.
_ nunca mais. aconteça o que acontecer.
_ sim.
_ acho que ele vai enlouquecer. percebes?
ele não diz nada desistindo da tentativa de a puxar para dentro de si.

uma hora depois saem do quarto mergulhando na atmosfera seca da noite. ouvem ao longe o gramofone do cinema "music for all" de janelas abertas por causa do calor. terão de se separar antes que o cinema feche pois poderão de lá sair conhecidos dela.


sente que se lhe esvaíram todos os fluidos do corpo sente_se cheio de fumo. a única coisa viva é a consciência do desejo e da ausência que o futuro lhe reserva. aquilo que gostaria de dizer não o pode dizer a esta mulher aberta como uma ferida ainda imortal na sua juventude. não pode alterar o que mais ama nela a sua aversão ao compromisso onde o romantismo dos poemas que ela tanto ama ainda se enquadra naturalmente no mundo real.


agora não há beijos. um abraço apenas. ele desprende_se dela e afasta_se. depois vira_se para trás. ela continua no mesmo sítio. ele retrocede e pára a poucos metros dela dedo em riste a sublinhar a frase.

_ só quero que saibas uma coisa. ainda não tenho saudades tuas.
_ hás_de tê_las _ diz ela.







a partir deste ponto das nossas vidas segredara_lhe ela horas antes ou encontramos ou perdemos as nossas almas.

















michael ondaatje em o paciente inglês pág. 113 3 114























ainda me vou rir do que se vai passar ou talvez não agora que me atiraste para os bastidores sem dó nem piedade julgando_me assim atiçada aos cães porque não nem esses me tratam como tu me tens tratado. abaixo de cão. é que não sou feita de pedra. tenho todas as entranhas alvoraçadas por tamanha indisposição. agonia_me saber assim e o vómito esse é natural. mas tudo com respeito meu caro. um imenso respeito pois claro. nada como respeitar. mas que respeito caramba!? trata_se aqui de respeitar o quê afinal? respeitar a tua presença na primeira fila aplaudindo a minha indigesta performance? é que neste acto eu não sou a figura principal. o principal és tu. portanto se alguém aqui tem vontade de se vomitar não serei eu apesar de atirada para segundo plano aqui a secundária faz parte de uma história de alguns anos e por esse motivo tenho direito ao meu papel no guião. estupor de um raio! até aqui nada de mais se não se tratasse de uma pequena grande história. deixo que abras as cortinas e assistas porque sei que desejas tanto ver_me actuar. mas este palco não me pertence nunca o pisei nunca o quis subir nunca entrei nunca. sabes? é que não gosto de luzes nem de público nem de aplausos. o meu género é mais assim digamos a dar para o discreto. uma personagem que quando se assume passa sorrateiramente sem quase deixar rasto. por vezes nem faz parte do guião. aparece sem se saber muito bem porquê nem quem é mas que faz falta na história quanto mais não seja para virar tudo do avesso e deixar todos à nora. é. é o meu género meu caro. estupor de um raio! queres que dance? não danço. queres que cante? não canto. queres que te ame? não. deixa_me em paz. aplaudes? estupor de um raio!














só porque ando um pouco cansada de falar tanto em desamor. que é isso?














fotografias de cal calkins