"era uma vez um principezinho que vivia num planeta pouco maior do que ele e precisava de um amigo. o meu amigo já se foi embora...é tão triste esquecermo-nos de um amigo. e nem toda a gente teve um amigo na vida. também foi por isso que comprei uma caixa de aguarelas e outra de lápis de cor."
o principezinho, antoine de saint-exupéry
há muito tempo que não sujo as mãos com os chamados materiais das belas artes. tenho-me limitado a letras desconstruindo palavras. as caixas de tintas mantêm-se seladas há anos. os acrílicos embebedaram-se em água e os óleos colaram-se ao metal das embalagens corroendo as cores. escusado será dizer que as referidas caixas de cartão a serem utilizadas para resguardar estes bens preciosos estão na última prateleira do armário mais alto da cozinha onde tenho de me empoleirar quando preciso de retirar algum. mas pronto como agora a coisa anda pacífica neste campo não me preocupa demasiado.a cor das belas artes sumiram-se dando lugar aos neutros, pretos, brancos, cinzas. desconstruindo a cor conseguia manter-me acesa como que se cada pigmento que levasse à boca fosse suficiente para me manter viva durante algum tempo. agora a tinta e a cor não me chegam. o que me está a dar cabo da cabeça mas mesmo o que me está a dar cabo da cabeça é não conseguir por no papel o que me vai na alma e no coração. por outras palavras: bloqueei. a cor das belas artes sumiram-se dando lugar aos neutros, pretos, brancos, cinzas. desconstruindo a cor conseguia manter-me acesa como se cada pigmento que levasse à boca fosse suficiente para me manter viva durante algum tempo. agora a tinta e a cor não me chegam. resta-me a escrita. esta escrita que não me sai. tanta que tenho dentro de mim e não consigo deitar fora. nem dizer nada nem contar nada a ninguém. ainda não sou capaz de falar pelo que passei. há muito tempo que não sujo as mãos com os materiais das belas artes. tenho-me limitado a letras desconstruindo palavras.