30.6.10

pina









por vezes queremos falar de qualquer coisa e chegamos lá muito perto. mas compreendemos também que é tão importante que parece estúpido só o facto de o mostrar. então é como se o "vestíssemos" com outra coisa porque mostrá_lo parece arriscado temos medo. é algo demasiado grande. há algo de muito mais sério do que aquilo que o público em geral pode ver. e existe está ali mas não vai ser exibido porque eu quis escondê_lo. é como se houvesse sempre um grande conflito entre aquilo que queremos tornar claro e aquilo que nos serve para nos escondermos.



pina bausch























esconde_se o afecto esconde_se o amor esconde_se o ódio esconde_se a raiva esconde_se a ternura esconde_se o olhar esconde_se o respirar esconde_se a pele esconde_se a voz esconde_se a palavra esconde_se a página esconde_se a vida esconde_se na morte esconde_se na boca a vontade de se beijar esconde_se a vontade de se amar esconde_se por tudo e por nada e assim escondida também se esconde o que nada há

27.6.10

tu




como se me tivessem cegado













leve levemente como quem chama por mim
fundido na bruma no nevoeiro sem fim
uma idéia brilhante cintila no escuro
um odor a tensão do medo puro
salto a janela com muita atenção
ponho_me à escuta bate_me o coração
sabem que me escondo na bellevue
ninguém comparece ao meu rendez_vous
salto para cima experimento o colchão
onde era sangue é só solidão
os meus amigos enterrados no jardim
e agora mais ninguém confia em mim
era só para brincar ao cinema negro
os corpos no lago eram do desemprego




excerto do texto bellevue de rui reininho









há horas assim em que tento conseguir tentar olhar_te bem fundo nos olhos e não encontro lá nada senão só um imenso nevoeiro como se te tivessem cegado e que apesar de ter vontade de os olhar fecho os meus com medo de que um dia os abras num renascer de luz que me fere que me dói que me atira fora me pisa me mata mais ainda do que esta vida em purgatório que procuro levar assim nuns dias felizes noutros menos mas não destinada ao fogo de um inferno que seria deixar de te olhar enquanto aparentemente viva por poucos tempos nada me importava a não ser só esta fé que mantenho de te perseguir até me cansar. olha_me: o respirar ainda cá está enquanto durares e sempre se manterá enquanto algum de nós nada esperar nunca nada porque nada há já a esperar.







fotos de jerry uelsmann

21.6.10

.chocar. fazer_vos desistir do que vos faz continuar aqui. deixar de existir_me. favorecer_vos. devolver_vos o tempo perdido na tentativa de me sentir, sentindo o gelo e o negro que vos assegurei estar longe do mais profundo amar_vos. desistam_me sem regras, ouso perde_las quando intervalo a vida e vivo nos minutos com a devassidão e a crueza que a minha existência encerra antes mesmo do mais profundo. ainda aí estão?

351 de oldmirror
em sinais de fumo a 10/19/2009




















só já sinto a vontade de sentir que tu sentes há tanto tempo. tempo perdido de todo um sentimento sem sentido nem direcção sem saber se o que se sente vem do fundo do coração que se abate bate amassa. não beijes de boca fechada. abre as letras às palavras que te escorregam na língua. sente_te de vez em quando sente_te sente_te sente_te. senta_te e deixa sentir_te. a verdade é nua. crua. chega a doer a fazer ferida. a mentira és tu. doce. suave. impossível ficar indiferente à tua pessoa ao não querer ser não querer estar não querer. já não consegues chocar nada. o choque és tu.por aqui há gente. gente que te lê. que te sente como tanto tu querias sentir. aprende_te de novo inicia_te apaga a página vira a folha não dês título. não numeres. enamora_te. recomeça_te. não te derives. rima_te. afoga a memória num mar de vinho. lança_te ao rio. vem ter contigo. não há portas. não há chaves. não há nada. estás aí?



fotos de francesca wood

18.6.10

massamassadaamassadamassa







é desta massa que nós somos feitos: metade de indiferença metade de ruindade







fazemos dos olhos uma espécie de espelho virado para dentro com o resultado de muitas vezes mostrarem eles o que estávamos negando com a boca


excerto do ensaio sobre a cegueira
josé saramago















quando dava beijos lentos duravam_me mais os amores









fotos de obras de julião sarmento

9.6.10







impossível de escrever em palavras passa_se ao sentir sentido de um gesto tão simples como o ser_se abraçado porque o corpo se exprime assim deste modo e a alma o pede quando não se exige dançando_se na pele o que os poros nos pedem para fazer como que se houvesse um rodopiar de dedos entre nós através das palmas das mãos que não se cruzam nunca porque assim o preferem naquele movimento por vezes chamado a ser de obscuro porque ás claras cega de vez e morre_se a cada dia um pouco de cada vez devagar de manso sem pressa porque o tempo já não nos pertence nem nós o queremos prender nunca mais porque esse já era foi o que tinha de ser o que nunca aconteceu nem jamais o voltará a ser assim como nós que a nenhum se pertence

















vão para o diabo sem mim ou deixem_me ir sozinho para o diabo!
porque haveremos de ir juntos?








fernando pessoa