23.11.08

xeque mate

_ estupor!
_ e porque dizes isso se não o sentes?
_ porque não posso continuar calada.










"nunca bom dia boa noite bom ano. nunca obrigado. nunca falar. nunca necessidade de falar. tudo fica mudo longe. todos os dias tentamos matar_nos matar. não só não nos falamos como não nos olhamos. a partir do momento em que somos vistos não podemos olhar. olhar é ter um movimento de curiosidade para e por é descer. nenhuma pessoa olhada vale o olhar sobre ela. é sempre desonroso. a palavra conversa é banida. creio que é ela que melhor aqui reflecte a vergonha e o orgulho. qualquer comunidade seja ela familiar ou outra é_nos odiosa degradante. estamos juntos numa vergonha de princípio que é ter de viver a vida."




marguerite duras in o amante pág. 83































_ estupor!
_ e porque dizes isso se não o sentes?
_ porque não posso continuar calada.














não tenho vergonha de princípio passar por mal educada. pretendo só insultar_te. desafiar_te a uma conversa em frente a um suposto tabuleiro qualquer na minha bancada da sala. alojemo_nos desconfortavelmente nas cadeiras que nos servem de suporte a afrontas comuns de mentiras e verdades. quero jogar à verdade ou consequências. lanças as peças ao estilo de desajeitada és e assim irás continuar a manifestar_te. talvez desta me sirva de sustento todas as estratégias que contigo aprendi. deixei_me de evasivas fugas e defesas. o meu jogo agora é ataque. olhas_me desconfiado como quem não pensa mas afinal que mal te fiz para merecer tamanha recarga. não se trata de vingança meu caro. caros são os sinais que me ficaram. marcas de desdém má ventura sinónimos de mal amada. por azar é desta que as pretas amargam. tens um nó na garganta tanta secura na língua boca fechada. as brancas minimizam_te o raciocínio de saber hoje este jogar. brutal. fico feliz. há a cada par e passo um ódio em cada jogada. o de não se saber sequer jogar porque não há regras neste nosso tabuleiro. salve_se. olhe salve_se meu caro adversário. a raínha levantou_se e xeque. xeque mate!











estupor. é o que me apetece dizer_te. não mereces ser ouvido. não mereces ser olhado. não te permito que me leias. estás proibído de entrar em minha casa.










fotografias de jay morrison

17.11.08

cem notas à parte e muitas em rodapé

cem notas à parte e muitas em rodapé





preciso bater a porta fechar a janela bater o pé preciso de um pouco de paz preciso de não me arrepender de esquecer de algum sentimento preciso de um pouco de paz preciso não ouvir falar não escutar não dizer e de não ler preciso de um pouco de paz preciso não atender não deixar dialogar de não escrever preciso de um pouco de paz preciso não querer não tocar não sentir de não temer preciso de um pouco de paz preciso não fotografar não pintar preciso de um pouco de paz preciso de não estar aqui de me ausentar de me presentear com um pouco de paz preciso dos meus infernos de não me limpar preciso de me sujar com um pouco de paz preciso continuar viva para não morrer já preciso de alertar de vomitar de insultar e de voltar a ser má menina preciso que me deixem em paz






fotografia de sabine l.

3.11.08

não compreendo e não pretendo continuar

fim











"não cobices a mulher do teu próximo nem desejes para ti a casa do teu próximo nem o campo nem o escravo nem a escrava nem o boi nem o jumento nem coisa alguma que pertença ao teu próximo"



décimo mandamento êxodo 20, 17


























não pretendo sem sombra de dúvida continuar a publicar katia chausheva berenika dimitri ou outros tantos que tais. fazem parte do meu portfólio fotográfico de memórias que teimo em guardar nas pastas.



não pretendo continuar de certeza a escrever sobre o que me ocupa os sentidos e me dá voltas à alma. esta indisgestão fez_me vomitar. que me adianta dizer por aqui de minhas injustiças se justa me desejo e tenho de me calar? que tormentas me vão desgastando neste lugar tão por si já farto que me faz cumprir vida num caderno que se me escorre sem verdades?



não pretendo continuar ligada ao que me move sem sentido agora que tanta falta me faz. pretendo continuar a pecar. cada vez mais o desejo. sem desafios a inquisidores de almas. queimam_se_me as páginas nas fogueiras e sou eu a primeira a soprar para atear. "o nome da rosa". livros. e livros. veneno. e veneno. venenosos. venenosas. sacrilégio este o de dizer um nada. mulheres nuas meus senhores? pois está claro. falsas morais. ateiam_se os sentidos que logo de seguida se apagam em água benta bentida água.





por ventura se encontrou palavra de ofensa inveja ou maldita?






















hoje fiquei a pensar se vale a pena continuar
sem vontade de apagar tudo o que aqui tenho tive vontade de não voltar








nota de rodapé: não é fim mas quase. não tenho vontade de continuar


fotografias de ville kansanen