30.1.09

então. sempre ouvi dizer a vida a dois é um osso duro de roer
e de enterrar e esgravatar para cheirar e confirmar o lugar
o asilo o lar doce lar
excepção feita aos onanistas
só ligam ás fotos das revistas

tu lavas eu limpo
tu sonhas eu durmo
tu branco e eu tinto
tu sabes eu invento
tu calas eu minto
arrumas e eu rego
retocas eu pinto
cozinhamos para três
tu mordes eu trinco
detestas eu gosto
magoas eu brinco

mas se me morres eu sinto



cerimónias de rui reininho














naturezas mortas é assim sim. sou natural de mortes. e o que me consegue ainda manter viva é o fumo. essa coisa cinzenta com que me levanto e me deito todos os dias. fuma comigo. trava o cinza na garganta e fica uns dias sem respirar. não te assustes porque não é disso que se morre. acender o isqueiro e levar o cigarro à boca é como que um beijo. um acto de confissão. agora abre a língua e deixa_me retocá_la de cinza. apaga a boca e deixa_ me respirar o teu fumo. limpa a garganta na minha.


tu sais eu fico
tu morres eu sobrevivo
tu choras eu não rio
tu foges eu não


mas se me morres eu sinto
fotografias de marta laura

28.1.09

quando aqui entro venho falar comigo pois de que me adianta andar a deambular pela casa?
à falta de outro meio de comunicação resta_me o público porque o privado esse parece que já não tenho direito muito menos o de te criar qualquer tipo de situação mais delicada vindo daqui que nada pareces saber do que se está a passar. não vale também a pena nem adianta sequer mais nada porque parece que não tem já importância alguma. não te vou mentir dizendo que estou mais ou menos bem mal. quando tudo estava ainda no princípio o que não chegou a começar. fiquei colada ao chão da sala durante algumas horas em frente à janela onde algumas vezes te vi chegar. pareceu_me até que passavas. pareceu_me até que chegavas. não é humano o esforço que fiz para conseguir não deitar lágrima. limpei a cara com as mãos querendo lavar_me. limpar_me de ti. apagar_me de ti. mas dói_me a água que respiro. até parece que este dia não chegava e tão cedo apareceu que me apanhou desprevenida nesta vontade de te querer cada vez mais. já nem na escrita me reconforto. que fiz eu para que isto acontecesse se é este o meu jeito de amar? nada tenho agora de ti. as músicas essas apaguei_as. fazem_me mal. afundem_se pois as memórias queimem_se as cartas apaguem_se as palavras matem_se os deveres. mata_te. larga de vez essa vida que te consome a cada dia que passa. vem ter comigo e diz_me na cara que me detestas que não me queres ver mais. arranja coragem para te desfazeres do que nunca chegaste a criar. sê frontal com a verdade e não te afastes. jamais. será a pior fuga que podes tomar. atormenta_te. atormenta_me. atreve_te a desafiar. pensas fugir porque te vais encontrar. apanhar na certeza no sossego da paz. mas agita a dor agita a lágrima.
e arrasta_me com elas também. procura coragem. respira fundo e vem ter comigo se é que mais algum dia irás chegar. como te posso desejar mal se aqui o mal está dentro de mim quando nada te prometi a não ser nada? é nesta transparência de dizeres e em tudo o resto que escondi que é tarde demais. mas nunca é tarde meu amor nunca é cedo para se recomeçar. e descansa. não. não me mato.
mentira
acto de mentir
afirmação contrária à verdade
com a intenção de enganar
engano propositado
falsidade
ilusão


















há verdades que muito se custam saber. há verdades que se omitem por puro prazer. há verdades que nunca se chegam a dizer. há verdades escondidas por querer. há verdades falsas que nos tapam a língua e se vomitam sem querer. há verdades. quisera eu escondê_las debaixo do meu véu. assim não ficarias comigo para sempre. mas é mentira.












fotografias de piotr rymer

25.1.09

este maldito terror de te amar












leio o amor no livro
da tua pele demoro_me em cada
sílaba no sulco macio
das vogais num breve obstáculo
de consoantes em que os meus dedos
penetram até chegarem
ao fundo dos sentidos
desfolho as páginas que o teu desejo me abre
ouvindo o murmúrio de um roçar
de palavras
que se juntam
como corpos no abraço
de cada frase
e chego ao fim
para voltar ao princípio
decorando o que já sei
e é sempre novo
quando o leio na tua pele.



nuno júdice
braille in geometria variável pág. 79








terror, grande medo pavor pânico dificuldade o que mete medo














agora me lembro que tinha marcado uma conversa contigo. adiada temporariamente porque não se poderia conversar. agora me lembro que tinha algumas coisas para te dizer. mas como se não se dizem essas coisas? proponho_te então o nada se dizer. deixar apenas correr o que me vai no corpo apesar de tudo o que me dói agora. dói_me a cabeça dóiem_me os olhos de não te ver dóiem_me as mãos de não te ter dói_me a boca de não te saber e dói_me o juízo sem perceber muito bem porquê.

quero lá saber de quem agora tens aí de lado. a verdade és tu a vontade és tu o desejo és tu. isso sim quero saber.

entras_me assim sem mais nem menos ao final deste tempo todo como quem não quer nada limpas os pés no tapete da entrada como que querendo apagar memórias que nos custam acreditar ser verdades entras_me assim pela casa dentro disfarçando medos e vontades e eu com terror de te amar fecho_te cá dentro encosto a porta por detrás e deixo_te deitar na minha vontade de te querer muito de uma só vez por entre murmúrios mal apagados que se prolongam pela madrugada. não se dorme. é tempo desperdiçado. aqueces_me a pele com todas as letras que ficaram por dizer sete anos antes de te abrir a entrada e te deixar sentar no meu abraço de mãos abertas e boca calada ficas_me assim como quem não quer nada mas deseja no fundo o direito de me amassar a roupa limpar a língua e se espreguiçar na minha almofada onde não há ainda pele nem suada nem maltratada nem marcada. é então que te tapo a boca em beijos por não te querer ouvir dizer nada. deixa_me só ter assim o teu céu pela madrugada. abraço_te sim com tanto terror de te amar. entras_me sem nada se precisar explicar e sais_me de repente pelas portas do fundo da casa como quem não quer mais nada.

este maldito terror de te amar.










fotografias de macrolepiota

21.1.09

um postal. uma caligrafia bem desenhada preenche o rectângulo.
passo metade dos meus dias desesperada por não te poder tocar. o resto do tempo sinto que não importa tornar ou não tornar a ver_te. não é uma questão de moral mas do ponto até onde chega a resistência de uma pessoa.


nem data. nem assinatura.



michael ondaatje













vontade, forma plenamente consciente de actividade; actividade ou inibição precedida de reflexão e de decisão; desejo; intenção; determinação; gosto; interesse; necessidade física ou moral; apetite; domínio; capricho.
















esta vontade de te querer dizer e sobreviver esta vontade de te querer ter esta vontade de não se deixar morrer esta vontade de se ser esta vontade de não se saber como se estar o ficar em lado nenhum a não se ser contigo ao lado de te viver de te esmagar de te enlaçar de te saber amar de te ouvir falar de te sei lá esta vontade de permanecer sempre contigo de lado esta vontade que me tira o gosto de por aqui andar esta vontade de não ter vontade de quase nada esta vontade sem ser vontade de ter vontade. verdade.











fotografias de katia chausheva















19.1.09

post scriptum















prémios à parte há que lembrar o cru do dia. não vou citar escritores nem poetas nem críticos nem outros. hoje o caso é bem mais grave. vou citar_me a mim. quem por aqui anda e me conhece bem vai conseguir ler_me nas entrelinhas. para isso não preciso ser clara. estar obscura faz parte de mim. finalmente um motivo para ter de escrever. é este. o inferno de ter que se viver. o desta gente que diz que gosta e depois do não se querer. este permanente inferno de ter de viver. o pensar que sim sim senhora apesar de não se acreditar não senhor e depois por fim ter a certeza da dúvida. desgastante ser. dizer que se cansa destes dias assim sem aparecer. pois a grande questão reside precisamente e uma vez mais naquilo que insisto faz muitos anos. o silêncio. da paixão. consome_me o juízo e o sentido. essa voz sem ter som que me azucrina e me fez criar isto. esta casa onde nada se diz e quase nada se escreve. com tanto para dizer. com tanto por se dizer. é este o inferno de ter que se viver. finalmente tenho um motivo para me escrever.
















post scriptum: há coisas que tinha escrito mas que não vou dizer aqui. foram quatro páginas inteiras. decidi não torná_las públicas. são minhas. nada têm os outros a ver com isso. decidi não te dar o prazer de as ler. nem a ti nem a mais ninguém a não ser eu.esse prazer de se ler o que se sente em mim só eu o tenho. egoísta? talvez. nem as quero tão pouco falar um dia. não vale mesmo a pena. a pena tenho_a eu de as ter escrito sem tas dar a ler. mas chega de joguinhos. chega de lamentices. são coisas minhas secretas que faço questão de não partilhar. não há prazer que limite a escrita. esse escorre_se na tinta em mim. e sente_se quente na pele. não basta de feridas.sem elas não consigo dizer.mas lido tão mal. dóiem a doer. a valer. apesar de se escrever hoje e agora amanhã apagam_se todas sem ser de vez. para quê então dar a conhecê_las? esquece_se pois então. de que vale escrevê_las? depois de as estampar na página deixam de ser minhas. são de quem as lê. há nisto tudo uma tentativa inválida de transferência de dores. mas é assim que tento ver_me livre delas. não será a melhor maneira muito menos solução para me desfazer delas mas é a única que de momento tenho. surpreendidos? eu também.ou não. é isso no fundo que me move a escrever. quando as passo ao papel passo_as aos outros. eles que chorem. eles que sofram.

e sabes que mais? quero lá saber de ti. sabes o que me ocorre dizer_te agora? vai à merda! e eu também.








fotografias de cristian sallai

7.1.09

aviso sobre conteúdos
alguns dos leitores deste blogue contactaram o Google porque acham que o conteúdo do mesmo é reprovável

apesar disso pretendo continuar





o
http://viverumconto.blogspot.com/

nomeou_me para um dardo

















com o prémio dardos reconhecem-se, os valores , que cada blogger emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais... os quais, em suma, demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo, que está e permanece intacto entre as suas letras, entre os seus pensamentos e logicamente escritos.
estes selos, foram criados com a intenção de promover o salutar convívio entre os bloggers, uma forma de demonstrar carinho e, reconhecimento por um trabalho, que agregue valor à Web.

quem recebe o “prémio dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:
- exibir a distinta imagem

- linkar o blog pelo qual recebeu o prémio
- escolher outros blogs a quem entregar o "prémio dardos"







e o nomeado é:



http://sinais-de-fumo.blogspot.com/





















fotos de irma atanassova

4.1.09

assim com medo de me partir




terror de te amar num sítio tao frágil como o mundo
mal de te amar neste lugar de imperfeiçao
onde tudo nos quebra e emudece
onde tudo nos mente e nos separa.


terror de te amar









deixai-me limpo
o ar dos quartos
e liso
o branco das paredes
deixai-me com as coisas
fundadas no silêncio
.


instante










dai-me um dia branco, um mar de beladona
um movimento
inteiro, unido, adormecido
como um só momento.
eu quero caminhar como quem dorme
entre países sem nome que flutuam.
imagens tão mudas
que ao olhá-las me pareça
que fechei os olhos.
um dia em que se possa não saber.


um dia branco

sophia de mello breyner









































a cada dia que passa quebram_se_me mais os ossos pela entrega à inércia em que me deixo estar. conseguirei eu um dia pegar o caminho que me leva aí? os pés
colam_se_me ao chão por cada vez que penso nisso.



há que mudar. mesmo ficando no mesmo sítio. por aqui. assim com medo de me partir.







fotografias de ewa brozozowska