30.7.08

eu quero casar contigo amanhã de manhã

sou de ti assim sem nada a dar






































joga_se pelo prazer de jogar e até perder




































prometo não falar de amor de gostar e sentir
portanto não vou rimar com dor um mentir
joga-se pelo prazer de jogar e até perder
invadem-se espaços trocam-se beijos sem escolher
homens temporariamente sós
que cabeças no ar
não retratos de solidão interior
não há qualquer tragédia
mas um vinho a beber
partidas regressos conquistas a fazer
tudo anotado numa memória que quer esquecer
homens sempre sós preferem perder
homens sempre sós são bolas de ténis no ar
muito abatidos saltam e acabam por enganar
homens sempre sós nunca conseguem casar





rui reininho




































a tua opção de estares assim sem ninguém faz_me pensar que temporariamente eu sou como que uma provisória. na certeza porém acho_me definida a candidata sem currículo definitivo.



mas nada é certezas e paralisas qualquer uma na ambiguidade com que jogas. dispões as peças minuciosamente no tabuleiro e a estratégia é sempre a defesa. na eventualidade de sistemático ataque a coisa é tão subtil que passa despercebida a qualquer um que assista à jogada. estendes assim o jogo para além das minhas entrelinhas tão indirectas por vezes que acabas na mesma por perceber todo o jogo. o xeque mate é inevitável. caio assim peça a peça preta no branco embrulhando_me na incapacidade de te conseguir resolver na minha avançada retirada.





mas eu quero casar contigo amanhã de manhã


pertenço_te até ao fim do mundo na dúvida absoluta com que me páro desde o princípio em que te conheci. sou de ti assim sem nada a dar. serei completa desde que me aceites inteira. das partes nem quero falar. cada uma delas fica espalhada no teu corpo por cada vez que te abraço.



eu quero casar contigo amanhã de manhã

































eu quero casar contigo amanhã de manhã























fotos de ewa brzozowska

e cossimo rossi

26.7.08

não me digas que não

será assim amar











aí onde nunca és para mim





































carlos amava dora que amava lia que amava léa que amava paulo que amava juca que amava dora que amava carlos que amava dora que amava rita que amava dito que amava rita que amava dito que amava rita que amava carlos amava dora que amava pedro que amava tanto que amava a filha que amava carlos que amava dora que amava toda a quadrilha









in flor da idade
de chico buarque



























sempre que te despedes parece que o nada mora por aqui. fechas_me assim a porta deixando_me sempre do lado de fora. sacudo os pés no tapede da entrada como que querendo ver_me livre de ti e escorrego sempre cada vez que o faço. limpo_me do teu cheiro que teima morar comigo fazendo_me de companhia que não há. atrás da porta sinto_te ainda como quem espera que eu não chegue mas que antes parta. consegues assim muito mais fácilmente ver_te livre de mim daquela que insiste sempre e sempre em continuar a ir. a partida é vagarosa como que se esperasse ainda pelo resto que teima em permanecer contigo. porque eu saí mas continuo lá onde tu estás. aí onde nunca és para mim. onde em algum lugar um qualquer sítio te vais sem sequer querer perguntar se quero ir ou ficar.


mais uma vez saio sem ser contigo ao lado. do outro lado desamparo_me sem mapa para me guiar. descobri assim uma nova forma de te amar. indiferente mastigo essa palavra. odiar é sem à. pecado leva à? será assim amar









não me digas que não





















escrito em câmaralenta
com rui reininho ao lado
fotos de macaeva olga
e adam kaczmarek

23.7.08

não dizer. o segredo reside aí. em não se dizer. nunca se diz. e se se disser eu desdigo

gastar o verbo amar nunca se diz









se se disser eu desdigo















às dez da noite trémulo e com os lábios mordidos para não chorar fui carregado de caixas de chocolates suíços torrões e caramelos e uma canastra de rosas ardentes para cobrir a cama. a porta estava entreaberta as luzes acesas e no rádio diluía_se a meio volume a sonata número um para violino e piano de brahms.

tinha crescido mas isso não se notava na estatura e sim numa maturidade intensa que a fazia parecer com dois ou três anos mais e mais nua do que nunca. mas não havia equívoco possível porque os seus seios tinham crescido até ao ponto de não me caberem na mão as suas ancas tinham acabado de se formar e os seus ossos tinham_se tornado mais firmes e harmoniosos. encantavam_me aqueles ajustes da natureza mas aturdiram_me os artifícios: as pestanas postiças as unhas das mãos e dos pés pintadas com verniz nacarado e um perfume barato que não tinha nada que ver com o amor.






- puta!_ gritei.












in memória das minhas putas tristes
de gabriel garcia márquez



















































o desejo é obscuro quando se apelidam vontades sem ser pelos nomes. as insinuações não vivem de transparência e eu faço questão de continuar limpa. esfrega_se_me
um branco na pele por cada vez que se me tapa a boca. os lábios cerrados fecham_se assim em portão duplo. os segredos não se contam a ninguém. por isso são segredos. senão deixariam de o ser. os meus são doentios. mas nem por isso deixam de ser segredos também.


vender_me em palavras não condiz. atirar ao ar letras fartas não me apetecia. gastar o verbo amar nunca se diz. não dizer. o segredo reside aí. em não se dizer. nunca se diz. e se se disser eu desdigo.




digo que te desejo? claro
digo se te quero? óbvio
e se te amo? não sei dizer





























é o desejo assim que continua a moer_me os sentidos

19.7.08

perto muito perto tão perto que não te consigo chegar

tão perto











perto muito perto tão perto que não te consigo chegar



























Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love


Oh let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love


Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love
Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove


Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love


leonard cohen




















agora que tu não estás











agora que tu não estás deixa_me que te diga que estiveste sempre comigo lá ao meu lado. como quem não quer a coisa muito menos comigo porque o essencial mesmo era ouvir a música. pois então afinem_se os ouvidos porque a noite só por hoje é dela.


partir assim numa viagem sem acordo prévio definitivamente não me sustenta. o ir contigo era bem longe daqui a qualquer lugar mesmo que não o fosse. só a idéia de partir assusta_me agora que enterro os pés como se me segurasse na vontade de ir já mas ainda não.


sem passada à vista bem longe é onde queria estar agora contigo. se estivesses aqui agora e já de imediato dir_te_ia que sim que ia sem olhar atrás. assim fecho a porta de casa e volto a ficar. de regresso desse lugar bem alto do palco vi_te como que numa primeira fila a olhar para lá. até parece que me ditas o sentido de querer estar. perto muito perto tão perto que não te consigo tocar.













assim é quando há vontade de estar
fotos de philippe berthier
escrito ao som dos pink floyd
wish you were here

16.7.08

faltas_me assim mais uma vez na cama enquanto te espalhas pela página




























sai_me a vida

sabe_____me farta
































































Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!





Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...




























Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

































Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...








esquadros
de adriana calcanhotto


























transpiro_me de ti por cada poro que vomito. atrofiam_se_me assim todos os sentidos por cada vez que o faço. sei que me serás um dia em um qualquer lugar. enquanto isso desnudo_te espreitando_te pela janela do meu quarto.



deixo_me embalar em cada baforada de cigarro mal apagado. sai_me a vida. sabe_me farta.


irei despir_te e contar_te o tacto. a mão gasta_se de alto a baixo. irei então atravessar_me nua e crua no sentido em que tu me dirás. o branco da cama apaga_se enquanto se farta de lá para cá. mas enche_se o sentido de estar. tudo no meu quarto.

debruço_me em ti despida de sim.

mais uma vez me faltas na cama enquanto te espalhas pela página
nota de rodapé
a ler ao som do perfume
este post é o meu obrigada ao baraújo por essa música

14.7.08

é tempo. tempo de saber o que o tempo nos faz

escolhes assim o dia sem perguntar














é tempo
tempo de saber o que o tempo nos faz
























Who can say where the road goes
Where the day flows?
Only time...

And who can say if your love grows
As your heart chose?
Only time...

Who can say why your heart sighs

As your love flies?
Only time...

And who can say why your heart cries
When your love dies?
Only time...

Who can say when the roads meet

That love might be
In your heart.
And who can say when the day sleeps

If the night keeps all your heart?
Night keeps all your heart...

Who can say if your love grows

As your heart chose?
Only time...

And who can say where the road goes
Where the day flows?
Only time...

Who knows?
Only time...

Who knows?
Only time...





only time
enya































sem dúvidas é assim que tu me entras por essa janela adentro ao final de seis anos sem saber das respostas que nesse tempo fazia questão de continuar a ignorar. que me importa agora saber o que te passa na alma sentida e sustentada na idéia desconcertada que assim me expões tão abertamente aclarando sentires já mortos e agora ressuscitados sem dó nem piedade.


entras_me assim num desvario desnorteando_me os sentidos tão comedidos e tolerados. desassossegas_me na maior da calma que há muito deixei para trás querendo nem saber onde estás ou o que fazes.

enches_me assim o peito de tormentas que há tanto tempo quero apaziguar. pára!

entras_me agora sem sinal de aviso de uma chegada tão por mim desejada sem vista à primeira de partir não se sabe para onde.

escolhes assim o dia sem perguntar.
é tempo. tempo de saber o que o tempo nos faz























é tempo. tempo de saber o que o tempo nos faz











fotos de bogdan jarocki














10.7.08

se calhar espero um dia que assim venhas devagar

.
mas a saber que vens




















cada tempo desfaz_se em sinais de fumo
que engulo a soluçar

















à memória de fernando pessoa

Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem, serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes,
só de ver que a beleza não nasce dia a dia na terra.

E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exata
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.


E dá asas ao peso da melancolia,
e põe ordem no caos e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros
na chaminé do sangue.


Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta,
do inesperado abrigo.


Vem, e defende-me
da traição dos encontros,
do engano na presença de Aquele
cuja palavra é silêncio,
cujo corpo é de ar,
cujo amor é demais
absoluto e eterno
para ser meu, que o amo.


Para sempre irreal,
para sempre obscena,
para sempre inocente,
Serenidade, és minha.






serenidade és minha
de raul de carvalho






















espero que se calhar um dia venhas oxalá assim devagar no decompasso de uma entrega
singular que aguardo serenamente. sem hesitar espero_te vagarosamente como quem aguarda sem esperar. a presença dos dias que faltam avizinham_se uma eternidade. mas a saber que vens cada tempo desse desfaz_se em sinais de fumo que engulo a soluçar. será por ventura uma fantástica chegada essa em que me chegarás despojado de outras memórias outras gentes outros lugares. será branca a madrugada será branda a palavra será viva a dormida. lúcida amedontrada desenvergonhada.









será a nossa partida
se calhar espero um dia que assim venhas devagar











oxalá
fotos de michael g. magin

6.7.08

com sentido seria contigo. assim.

sem ti
consentido seria contigo assim


com sentido
















há um sentido subjacente ao que escrevo
a que nenhuma decifração pode restituir a leitura
não digo que seja secreto
que tenha nascido de um desejo de ocultar o que é visível


depois há uma música que nasce daquilo que para uns
se chama sugestão
e outros interpretam como o sopro divino


nem uma nem outra me interessam


o sentido és tu na perfeição absoluta com que o som e a imagem se juntam
para que nada os separe


esta verdade é minha
e quando te encontro sob o sentido do que digo
todo o poema está explicado





teoria do enigma
de nuno júdice






























o sentido serás tu se um dia eu te correr a pele de baixo acima.
na sofreguidão do sentir deslizar o tacto que me arranha as lembranças de uma coberta já fria. levar_te à cintura as mãos que agora se fecham em força desprendida. percorrer_te os cabelos e escorrê_los por entre os dedos como se cada um deles se emaranhasse em mais um nó aberto afinal. mas duro e seco. sofrido.


o sentido és tu. na perfeição fina da figura com que me abraça sem fim.


enfim.


sem sentido é sentir o que senti. sem sentido é sem ti. com sentido seria contigo. assim.






consentido.
sim
fotos de katia chausheva