26.2.08

a. te. li. ê.










a. te. li. ê.





a etimologia da palavra estúdio deriva do latim studere
que pode ser traduzido como
ânsia de conseguir algo









mo. de. lo


pessoa que serve de estudo aos pintores e escultores

imagem ou desenho que representa o objecto que se pretende reproduzir













fan. ta. sia.








imaginação criadora
imagem fantástica


capricho da imaginação de um pintor poeta ou músico

23.2.08

o lugar dos medos







hoje não há fotos.
como se retrata o medo?

o meu tempo é de medo.
o meu tempo é quando. quando eu quiser dizer não é não. quando eu quiser dizer sim é sim. piora tudo no tempo do talvez. escusado será dizer que esse é o meu tempo. além do quando. o meu tempo é de medo.

talvez sim. talvez não. indecisa. insegura. insatisfeita.

vivo no lugar dos medos. há em mim um lugar do qual nunca falo. o dos medos. de tudo tenho medo. o de mim é o primeiro. não deixo que ninguém se aproxime. defendo-me dos medos com o afastamento. e assim afastados continuo segura na minha eterna insegurança.

não entendo os outros. juro que não entendo mesmo. ou será que sou eu que não me entendo a mim?

não complico. só tenho medo. mas apresento-me corajosa do que sou. tantas guerras ganhas. e uma batalha tão difícil esta. a dos medos. com inimigos assim invísiveis não tenho armas. queria vencer o lugar dos medos. sózinha. de frente.

o meu tempo é quando. quando vencer esse lugar.

mas moram nele outros que não esqueço. e os que nunca chegarão a morar.

que vontade de chorar.

22.2.08

touché____e

touché____e















































































20.2.08

estás aí?







estás aí?
que escrever quando não se tem nada para dizer?
que escrever quando se tem tudo para não dizer?
que escrever quando não se consegue dizer?




estás aí?

18.2.08

hoje visto branco




branco







cego_me de luz em branco

cerro os olhos ao que não é já nem nunca será
abate_se o céu nos meus ombros

e com ele carrego esse peso como se de um castigo se tratasse


um dia quando me livrar disso encontro_me contigo


por fim









dá_me um dia branco
uma terra plena de música





e não voltarei a partir




















as horas cinzentas conheço_as de cor
são horas mortas caladas
vividas sem som
são horas neutras despidas de branco
transparentes de dor






as horas cinzentas conheço_as de cor

16.2.08

i. ne. quí. voco.







i. nér. cia




sem movimento
.desando

paro. já

sem presença não vale
. a pena





.que cansaço









i. ne. xe. quí. vel.

impossível de executar

possível espera
espero. e espero
deses. pero




farto






i.ne. quí. voco.



que não é equívoco. claro
evidente

a espera demora_se
descanso

não vens
canso
vou_me embora


.adeus

14.2.08

mal me quer

bem me quer









































me quer
muito


mal me quer
bem me quer
muito
pouco
nada
mal me quer
bem me quer
muito
pouco
nada
mal me quer
muito
bem me quer
pouco






resta_me o nada

todas as cartas de amor são ridículas







todas as cartas de amor são
ridículas
não seriam cartas de amor se não fossem
ridículas.


também escrevi em meu tempo
cartas de amor,
como as outras,
ridículas.


as cartas de amor, se há amor,
têm de ser
ridículas.
mas, afinal,
só as criaturas que nunca escreveram
cartas de amor
é que são
ridículas.



quem me dera no tempo em que escrevia
sem dar por isso
cartas de amor
ridículas.



a verdade é que hoje
as minhas memórias
dessas cartas de amor
é que são
ridículas.




(todas palavras esdrúxulas,
como os sentimentos esdrúxulos,
são naturalmente
ridículas.)



álvaro de campos

10.2.08

eu que amava o pedro




como não acontece ficam as palavras.






não seria pedir muito querer conhecer o gosto da tua boca. convidar_te para um café numa esplanada qualquer onde se pudesse ouvir o mar. falar um pouco de mim. muito pouco. saber de ti. sim.ficar quieta ao teu lado. olhar_te de lado em segredo. sem te avisar. ficar calada a ver_te fumar.






agora me lembro que acho que nunca te disse. deixo_te ainda na dúvida porque é a melhor solução que tenho. afasto_me de quem gosto. e é este contrário do sentir que não consigo perceber. contigo. é na negativa que me afirmo. medo. muito medo.




nas paixões que vivi a palavra soou_me sempre a silêncio. era no não dizer que morava a magia. e eu gostava disso.




por ventura seria fantástico uma vinda. ou o regresso do que nunca foi. o esperar está fora de questão. não há tempo para se ter tempo de. apressam_se as horas quando não estás. atravesso_me entre os ponteiros dos minutos. estaciono_me. e empurro_me para um tempo sem o ser. o dizer que não te espero seria mentira. o contrário mentira é.




de tantos nomes poucos recordo. apagaram_se os apelidos também. nem o toque fica. estranho_me. lido com uma nova forma de estar. e não gosto. amedronta_me o desconhecido.




eu que amava o pedro que amava a justina que amava o rui que amava a luísa que amava o luís que amava a cristina. que não amava ninguém.

esboço para uma carta


lembro-me agora que tenho de marcar um encontro contigo,

num sítio em que ambos nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma das ocorrências da vida venha interferir no que temos para nos dizer.


muitas vezes me lembrei que esse sítio podia ser, até, um lugar sem nada de especial, como um canto de café, em frente de um espelho que poderia servir até de pretexto para reflectir a alma, a impressão da tarde, o último estertor do dia antes de nos despedirmos, quando é preciso encontrar uma fórmula que disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer.



é que o amor nem sempre é uma palavra de uso, aquela que permite a passagem à comunicação mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale, de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio ser, como se uma troca de almas fosse possível neste mundo.



então, é natural que voltes atrás e me peças:«Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde, isto é, a porta tinha-se fechado até outro dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem sido pensadas.



no entanto, ao escrever-te para marcar um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos para dizer uma ao outro: a confissão mais exacta, que é também a mais absurda, de um sentimento; e, por trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.




nuno júdice

9.2.08

hoje não
















hoje não






não te tenho

























não te espreito
não te leio
não te cheiro








não estás























não estás e não és





hoje não



























não acredito em ti










6.2.08

cheque mate


porque hoje é dia 6









cheque mate!

agora










dói
dói
dói_me
a dor
de mim
cai_me o silêncio
das horas
e dos dias
e dia após dia
tudo
sempre igual





pára!




agora.

3.2.08

nada

terminei hoje o meu primeiro caderno de escrita.
um A5 de capas pretas. pautado claro.
meio ano não chegou. talvez uns cinco meses. mais não foi preciso. já tenho outro de reserva. não vá ter vontade de.
fiquei preocupada. a última palavra que escrevi nele foi nada.

sms pendente

porque hoje é domingo não há fotografias. porque detesto os domingos.
é um dia que não é dia. não é coisa nenhuma. é nada.
a semana não devia ter domingo. o domingo fez_se para amar. e eu não amo. por isso não há domingo hoje. há nada.
nada se faz. levanta_se tarde sem vontade de se levantar. acorda_se atravessada porque o nada é um eterno tudo. um imenso não há.
nada apetece fazer. tenta_se riscar o domingo do calendário. e nada. na agenda riscam_se os domingos. faz de conta que não há. nada apetece. só beber um café. e fumar. e de cigarro em cigarro outro café. e nada.
apetece_me rir de mim. porque sou uma tonta. mais nada. porque não arrisco. é um risco desnecessário. mas tão necessário. estou farta da pasmaceira. do nada. precisava de um desafio. um especial. mas nada. só assim o domingo faria sentido. aí faria tudo o que de mais belo uma mulher poderia fazer num domingo. mais nada.
sms pendente
ás vezes não me faz falta. nada. ás vezes não me seduz. nada. se te amo. mais nada

2.2.08

e ses

dai-me um dia branco
um mar de beladona
um movimento
inteiro unido adormecido
como um só momento
eu quero caminhar como quem dorme
entre países sem nome que flutuam
imagens mudas
que ao olhá-las me pareça
que fechei os olhos
um dia em que se possa não saber


terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
mal de te amar neste lugar de imperfeição
onde tudo nos quebra e emudece
onde tudo nos mente e nos separa



deixai-me limpo
o ar dos quartos




e liso




o branco das paredes


deixai-me com as coisas






fundadas no silêncio






espero sempre por ti o dia inteiro




quando na praia sobe de cinza e oiro
o nevoeiro
e há em todas as coisas o agoiro
de uma fantástica vinda


























se tanto me dói que as coisas passem


é porque cada instante em mim foi vivo
na luta por um bem definitivo

em que as coisas de amor se eternizassem















poemas de sophia de mello breyner andresen

fotos de anne arden