18.9.10

na marca que me deixaste










tanto falar em surdina contigo é só triste sina só não me digas que não
vou partir vou voltar reconquistar o prazer não me digas adeus
vou viver outra vez renascer vou gritar nunca digas adeus



rui reininho













agora que tu não estás deixa_me que te diga que não sinto a tua falta até vires outra vez ter comigo como naquela tarde em que a falta tua a falta dela a falta de outro a falta de todos não era falta nenhuma a não ser a minha. a falta de todos a falta de nenhum a falta a falta minha a falha tua ainda me falta outra tarde em que me vais vir ao chegar como quem não quer nada nem nada lhe falta a não ser a falha de se ser pontual e não se sabe se vai ou se parte mas não fica essa única certeza que apresentas sempre na manhã seguinte o não ficar é certo mas que falha! chegas_me assim outra vez como quem não quer nada e tudo de mim te é dado sem pedir nada nada de ti nada entre nós a não ser a falta que se sente quando não se está. estamos assim a sós tu na tua eu na minha nós não na nossa porque somos assim como quem não quer a coisa mas precisando ambos daquele abraço que nos aperta as gargantas e nada nos faz dizer nada porque não há nada para dizer senão abraçar. beija_se beija_se beijam_se as línguas cheira_se o corpo agarra_se o suor das costas fecham_se os olhos porque não se quer olhar não se precisa olhar precisa_se sim não falhar as faltas não se precisa dizer nada olha_se assim de olhos fechados tu em mim e eu contigo cerram_se_me os dedos na tua boca e fecho_a com a minha para não me dizeres nada porque sei que vou ter a tua falta espalhada pelo corpo todo da cabeça aos pés na marca que me deixaste.








fotografias de francesca woodman

2.9.10

e agora não morres porquê?











e agora não morres porquê? morres sempre neste dia porque não morres outra vez? raios te partam estupor de um raio. tens de morrer mais uma vez que seja. não percebes que se não voltares a morrer não voltas a viver nunca mais? tens de voltar para voltar a morrer. é sempre nova a maneira como se morre. é preciso é morrer mais. senão não se volta não se morre de novo e sempre que se morre é novidade. estupor de um raio. morre. e agora não morres porquê? morres sempre neste dia porque não voltas a morrer? só mais uma vez. estupor de um raio.