19.9.09


é










pois é
































e é preciso correr é preciso ligar é preciso sorrir é preciso suor é preciso ser livre é preciso ser fácil












é preciso o amor de repente de graça é preciso a relva de bichos ignotos e o lago é preciso digam que é preciso é preciso uma vista para ver sem perfume e outra menos vista para olhar em silêncio é preciso o logro a infância depressa o peso de um homem é demais aqui
















e é preciso gente para a debandada é preciso o raio a cabeça o trovão a rua a memória a panóplia das árvores é preciso a chuva para correres ainda é preciso ainda que caias de borco na cama no choro no rogo na treva é precisa a treva para ficar um verme roendo cidades de trapo sem pernas









mário cesariny discurso sobre a reabilitação do real quotidiano manual de prestidigitação





































aguça_se o sabor do cheiro. lava_se a língua da secura dos monólogos mantidos a par. a improvisação do texto chega a doer. há feridas na boca que nunca se curam.no acto da chegada jogo à defesa. sem vontade de lançar no tabuleiro a peça única mantem_se de pé. parada e quieta qual estátua de pedra fria. sem cheiro. dá dó de ver.faz lembrar um casulo amassado. calca_se a casca e atrofia_se a pele. machuca_se o odor. transforma_se o cheiro num fedor mastigável após a boca acender o último cigarro. e fica_se sem saber o que dizer. sem fazer. fica_se.nesta dificuldade de continuar em jogo não sei de quê atiça_se a vontade de reinventar novos sentidos. aguça_se então o sabor do cheiro.o perfume que ocupa cada poro daquela pele. a que ocupa o branco da cama com o lençol que se afasta com os pés e o travesseiro que se atira fora pelo ar.é neste tabuleiro que me arrasto vagarosamente desligando a luz da rua que me atravessa os estores mal fechados enquanto a corrente de ar se me atravessa por entre os braços. o único sinal de vida é a respiração quase inaudível que parte em dois a massa atabalhoada de corpos adormecidos pelo quarto.e a hora avançada da madrugada mantem_se fresca como a memória de tantas noites sem ser assim. com o precipitar aposto em não jogar. é um jogo sem sentido que todo o sentido faz.mais uma vez mas desta acompanhada o corpo continua_me frio e esgotado de cansaço. poderia teimar. quebrar o ar pesado com um bafo sufocado. despejar as frases há tanto encravadas. retocar os poros. respirar sem inalar. mastigar o perfume ainda não gasto. lavar a língua nos suores tão familiares.mas há feridas no cheiro que não se saram.










fotos de mike w.

9.9.09

para onde vou porque vou como vou e se vou ou não vou











sei o que quero como quero quando quero e para que quero.
não há interrogações possíveis exclamações supostamente prováveis nem tecicências duvidosas. há os pontos finais. ponto final. ando na fase do ponto final.
sei quem sou o que sou como sou para onde vou porque vou e como vou.
aprendi a dizer não.tardiamente mas aprendi. o sim era muito raro. jogava mais com o talvez. dou por mim a pensar nisto. no fundo há uma ponta de revolta por ser quem sou e não querer ser assim. mas eu sou assim. combato-me muito. mas nessa guerra que tenho comigo nenhuma de mim sai ganhadora. mantenho-me estável. quase equilibrada.
sempre me assustou a mudança. o talvez era razoável. o não extremamente seguro. e o sim não fazia parte do meu vocabulário.
mas apetece-me dizer o que me apetece dizer. hoje não sei. amanhã logo se verá. deixa ver como me sinto. depois logo se vê se me apetece. dia após dia pratico-me cada vez mais ao sabor dos apetites. dos meus claro. se calhar é por isso que me dizem que ás vezes consigo ser bem desagradável. como desagradável? se só digo o que me apetece.
sei que magoo os outros. é uma defesa minha. faço-o para não me magoar a mim. faço mal. porque assim fico magoada por magoá-los. mas que mágoa!
ando na fase do ponto final.
há ponto final.
ponto final.






09.09.07











mantenho_me estável quase desequilibrada.






















fotografias de fritz faber

5.9.09

o regresso às aulas













o clima geral é de um ar pesado que se respira. a ivone até já nem põe o capacete.para quem não sabe o capacete da ivone é um capacete romano feito de metade de uma bola de futebol e pintado de castanho que foi usado num teatro e depois ficou abandonado na sala de e.v.t. recuperei_o usando_o durante a reunião de departamento de educação artística quando da eleição do cargo para delegada de educação visual e tecnológica. fui eleita por maiora quase absoluta. ainda hoje não entendo no que é que os meus colegas todos estavam a pensar quando votaram numa professora de capacete romano na cabeça.o dia hoje começou mal. mas piorou ainda mais. no último bloco da tarde o sexto H. vinte alunos que ao final do dia querem tudo menos ouvir falar em avaliação. muito menos a auto. mas eu tinha programado ou melhor planificado essa avaliação para hoje. e temos de chamar as coisas pelos nomes. vá lá saber_se se também alguém aqui me vai avaliar.ficha nova? sotora o que é uma unidade de trabalho? após quinze minutos de esclarecimentos a dúvidas as dúvidas mantinham_se. nem voltei a tentar. porquê? básico. não ouviram nada do que eu disse. aquelas cabecinhas pensam em tudo menos no que se está a tentar explicar. para quem não sabe e.v.t lecciona_se em par pedagógico. isto é são dois professores na aula. complicado não é? formações diferentes personalidades diferentes e às vezes muito ou quase nada em comum. é como um casamento. só de escrever a palavra fico mal disposta. a mais difícil para mim é a fase de adaptação. longa e por vezes dolorosa. depois habituo_me. mas como estava a dizer o estarem dois professores na mesma sala justamente implicaria tarefas comuns e divisão de trabalho.mas não.no meu caso não se passa assim. na hora de almoço apeteceu_me pegar na pasta e ala que se faz tarde vou_me embora para casa. resisti. aguentei. avisei a turma que tinha de haver silêncio para se conseguir trabalhar. ao qual minimamente cumpriram tirando o caso do nino que continua no fundo da sala à conversa com o humberto e que até de vez em quando trocam mensagens no telemóvel ou o daniel que não pára de comentar a desgraça que foi a derrota do benfica ou da diana que teima em manter a sua pochete a preto e branco em cima da mesa de trabalho comentando com a carina o que a sotora hoje traz vestido ou o pedro morgado que teima em continuar a fazer pontaria aos colegas com a sua invencível esferográfica bic transparente e a ana pires que de cinco em cinco minutos pede para ir à casa de banho e que até tem autorização médica ainda não percebi bem porquê.vou_me lá eu preocupar com quarenta e cinco minutos de falta minha quando quem está em falta não sou eu mas sim os vinte alunos do sexto H que tenho no último bloco da tarde de quinta feira mais a colega presente que está ausente?e tentei. juro que tentei várias vezes . pelo que há de mais sagrado seja lá onde for eu juro que tentei. tentei manter algum interesse pelo que se tinha de fazer. mas parece que a única interessada ali era eu. tentei manter alguma disciplina e silêncio na sala de aula. por breves instantes era conseguido. tentei realizar a auto e hetero avaliação. afundada em fichas de trabalho dossiers e lápis e lapiseiras por cima da secretária.tudo isto enquanto a colega impávida e serena consultava as planificações de todos os colegas de grupo no dossier da disciplina. tudo isto enquanto a colega se levantou e se dirigiu ao fundo da sala onde tem um armário só dela para de lá trazer um saco de cartolina em amarelo vivo daqueles onde se costumam colocar as embalagens das amêndoas da páscoa para se voltar a sentar guardando nele o cacto que tinha comprado na feira de ciências. tudo isto enquanto acomodou com muito amor e carinho o seu cacto dentro do seu saco amarelo. tudo isto enquanto permaneceu sentada de braços cruzados em silêncio na sua secretária.cinco minutos antes das dezassete e trinta pedi desculpas aos alunos e à professora pela minha incapacidade de dar a aula. o silêncio abateu_se com toda a força na sala. o mesmo silêncio que eu pedi no início para conseguir trabalhar e que a turma até conseguiu cumprir. ninguém mas não houve ali ninguém que acreditou em mim. a não ser eu. a única que se levou a sério fui eu. a única que acreditou fui eu.fragilizada pela impotência de conseguir permanecer peguei na pasta e na mala levantei_me e despedi_me. o daniel a diana o ruben e a carina desejaram_me bom fim de semana. ainda me falta sexta pensei. a professora que fica ali na sala é que amanhã tem dia de folga. saí da escola e já depois de ter passado o portão respirei fundo. bem fundo. por hoje chega. já tenho a minha dose.hoje bati com a porta senhor presidente do conselho executivo.mas só por hoje. amanhã sou a primeira a entrar.quantas vezes mais?
13.03.08