" é um lugar de abandono naufragado. pede_me que lhe diga em que penso."digo_lhe que já não penso em nada. não quero pensar.
é a noite que chega agora. diz_me que me lembrarei toda a vida desta tarde mesmo quando tiver esquecido até o seu rosto o seu nome. pergunto se me lembrarei da casa. ele diz_me: olha_a bem. digo_lhe que é como qualquer outra. ele diz_me que sim que é isso como sempre.
o amante de marguerite duras pág. 66
é isso. como sempre. com o tempo apagam_se as memórias do rosto. e até do nome. do rosto do nome do cheiro do toque da casa. gastam_se os sentidos de não os usar. e com o passar do tempo fica quase nada. fica nada. como sempre. é isso. como sempre.
mas revejo ainda o rosto. e lembro_me do nome. vejo ainda as paredes da sala e do quarto. levanto_me para me voltar a levantar e a debruçar_me em nada. não há corpo. não há toque. não há cheiro. não há rosto. não há nome. só há quarto.
"os beijos pelo corpo fazem chorar. dir_se_ia que consolam"
desconsolo agora. não há beijos. não há corpo. não há nada. há quarto.
fotografias de black mirror