_ estupor!
_ e porque dizes isso se não o sentes?
_ porque não posso continuar calada.

"nunca bom dia boa noite bom ano. nunca obrigado. nunca falar. nunca necessidade de falar. tudo fica mudo longe. todos os dias tentamos matar_nos matar. não só não nos falamos como não nos olhamos. a partir do momento em que somos vistos não podemos olhar. olhar é ter um movimento de curiosidade para e por é descer. nenhuma pessoa olhada vale o olhar sobre ela. é sempre desonroso. a palavra conversa é banida. creio que é ela que melhor aqui reflecte a vergonha e o orgulho. qualquer comunidade seja ela familiar ou outra é_nos odiosa degradante. estamos juntos numa vergonha de princípio que é ter de viver a vida."
marguerite duras in o amante pág. 83

_ estupor!
_ e porque dizes isso se não o sentes?
_ porque não posso continuar calada.

não tenho vergonha de princípio passar por mal educada. pretendo só insultar_te. desafiar_te a uma conversa em frente a um suposto tabuleiro qualquer na minha bancada da sala. alojemo_nos desconfortavelmente nas cadeiras que nos servem de suporte a afrontas comuns de mentiras e verdades. quero jogar à verdade ou consequências. lanças as peças ao estilo de desajeitada és e assim irás continuar a manifestar_te. talvez desta me sirva de sustento todas as estratégias que contigo aprendi. deixei_me de evasivas fugas e defesas. o meu jogo agora é ataque. olhas_me desconfiado como quem não pensa mas afinal que mal te fiz para merecer tamanha recarga. não se trata de vingança meu caro. caros são os sinais que me ficaram. marcas de desdém má ventura sinónimos de mal amada. por azar é desta que as pretas amargam. tens um nó na garganta tanta secura na língua boca fechada. as brancas minimizam_te o raciocínio de saber hoje este jogar. brutal. fico feliz. há a cada par e passo um ódio em cada jogada. o de não se saber sequer jogar porque não há regras neste nosso tabuleiro. salve_se. olhe salve_se meu caro adversário. a raínha levantou_se e xeque. xeque mate!