3.9.07

carta fechada com postal ilustrado




ao pedro em setembro a três

















carta fechada com postal ilustrado


tem coisas que nunca se dizem. tem outras que tardam em se dizer. e ainda tem aquelas que tardam mas acabam por ser ditas.

as coisas pessoais não se dizem. porque são pessoais. ou pessoal. e por ser da pessoa nunca se devem dizer. escrevem-se.

nada como a palavra para traduzir o que nos vai na alma. tem outras coisas claro. a pintura. a música. o amor. talvez quase tudo o que mais prezo na vida. tem outras. a liberdade. um bom amigo. uma boa paixão. mas é nas letras que nestes últimos tempos me agarro de corpo e alma.


nunca tive espírito maternal. muito menos de maternidade. mas aconteceu. porque deixei acontecer. porque de verdade me apeteceu. por outro lado na altura e já lá vão dezanove anos o casar e ser-se mãe e o ter filhos era ser-se normal. pensava eu. porque quase todas as mulheres se casavam e tinham filhos. errado! como andava enganada nesse tempo. se calhar hoje em dia também ando. mas em normalidades diferentes que essa.


tinha de ser um rapaz. semprei gostei de azul e detesto o cor de rosa. e tinha de ser pedro. assim era o prolongar mais ainda esse estado de paixão. porque gosto do estado de alma quando me apaixono. para não falar naquele calor que me entra pelo peito adentro. anda-se com cara de parva. e dizem-se muitas baboseiras. as pessoas ficam estranhas e perguntam " estás apaixonada?" ao qual nem respondo limitando-me a um grande sorriso que me vai de orelha a orelha com aquele brilhozinho nos olhos tão característico de quando se ama. e se continua a fazer figura de parva.


demoraram uma tarde inteira a trazê-lo para o pé de mim. estava em observação. no corredor alguém chegou ao pé de mim e perguntou se eu era a mãe do pedro. havia um problema qualquer. nessa noite não preguei olho. não por causa do problema qualquer. porque só queria olhá-lo. só na manhã seguinte o olhei bem demais. só dias depois me disseram desse qualquer problema. só nove anos depois se resolveu o problema qualquer. hoje não há qualquer problema!


quando entrei soava o "morning has broken" do cat stevens. era a minha música e a do pedro também. não a do pedro filho mas a do pedro paixão. há coisas que não se explicam. há coisas que não se dizem. as pessoais tardam em se dizer ou nunca chegam a ser ditas. ouvem-se.


há uma e meia da tarde tive o pedro. é uma sensação estranha a de ser-se mãe. parece que nos esquecemos de nós. tudo gira à volta daquela amostra de gente que nem consegue falar nem andar nem nada. tão dependente de mim. e eu tão verde. sem saber sequer como pegar nele ao colo. com medo de o deixar cair. com medo de fazer alguma coisa errada. como tive medo. acho que nunca tive tanto medo na vida como desta vez em que tentei deitar para trás das costas a minha anormalidade.


há coisas tão pessoais mas tão pessoais que não se dizem nunca se escrevem e jamais se ouvem. amam-se!

12 comentários:

InConfidências disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
InConfidências disse...

Ivone,
:)

Realmente eu gostaria que todos os meus amigos reais e virtuais estivessem ontem comigo, para abraçá-los e receber abraços.
Vocês são a melhor parte de mim.

Sinta Ivone, como se tivesse comido um pedaço de um
( bolo de carinho)

“há coisas tão pessoais mas tão pessoais que não se dizem nunca se escrevem e jamais se ouvem. amam-se!”

O amor não se descreve, o amor não lembra do que precisa.
Porque o amor não precisa de nada.

Amamos apenas!!!
É mais. Muito mais.
Mais do que um sentimento.

Beijoss..

Vicktor Reis disse...

Querida Ivone
Sublime a tua forma de descreveres momento tão importante da tua vida e que connosco decidiste partilhar.
Maravilhosos os estados de alma que tuas palavras não mostram mas que sobressaiem nas pausas.
Cada momento da nossa vida passada é único e deixa marcas que importa conservar.
Mas a nossa idade sempre deve ser medida pelos anos que temos para viver (todos os que quisermos) e não pelos tempos passados.

Beijinhos.

Anónimo disse...

Ivone
Estás a conseguir umas quantas vitórias, o que é muito bom.

Imagino-te a receber o teu Pedro que tinha chegado do Alentejo...

Que maravilha.

Um beijo e força. Muita força.

maria josé quintela disse...

depois desse último parágrafo, não há mais nada a acrescentar!

Anónimo disse...

Que lindo!

Por isso o amor não se diz:
se faz!



Abraços, flores, estrelas..


.

lila disse...

em Setembro 3
parabéns ao Pedro
parabéns á mãe do Pedro
parabéns aos corajosos colegas que comeram o bolo de chocolate a derreter numa quente tarde de verão...em Setembro 3
beijinhos

ivone disse...

c_britto
engana-se quando diz" Porque o amor não precisa de nada."
o amor precisa de tudo!!
bj

amigo victor
mais uma vez decidi partilhar o que me vai na alma...e soube-me tão bem! nem imaginas...
bj

repórter
mais uma vitória minha sem dúvida nenhuma. deitar cá para fora o que me passa no coração.
bj

maria josé
nada a acrescentar mesmo.nada! e tanto ainda por dizer...
bj

edson
o amor faz-se respira-se toca-se vive-se...
bj

lila
no próximo ano em vez de um bolo de chocolate levo um pão de ló. evito assim a mousse!
bj

Lu Soares disse...

Ola Yvone,passei por acaso,em silêncio como sempre,decidi parar para deixar o meu apreço pelas tuas palavras e por este espaço,onde reina a tranquilidade...

Beijinhos

Lu

ivone disse...

lu(a)

de tranquilidade só o espaço.as letras. as palavras essas intranquilas.
confesso que fui tentar saber quem você era.dei por mim a saber que um dos seus livros favoritos é o rio piedra. faz assim: vá ler o meu post de 18 de agosto "um caso de amor" .lá falo dele.

bj

tchi disse...

O AMOR só serve para AMAR. E ainda bem.

ivone disse...

tchivinguiro

quando se trata de amar o amor serve de desculpa para tudo o que se quiser.