26.9.07

monólogo de orfeu



"agora que não estás deixa que rompa o meu peito em soluços!

te enrustiste em minha vida e cada hora que passa
é mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo em mim...


e sabes de uma coisa?
cada vez que o sofrimento vem
essa saudade de estar perto se longe
ou estar mais perto se perto
que é que eu sei!


essa agonia de viver fraco o peito extravasado
essa incapacidade de me sentir mais eu orfeu


tudo isso que é bem capaz de confundir o espírito de um homem
nada disso tem importância quando tu chegas
com esse contentamento essa harmonia esse corpo!
e me dizes essas coisas que me dão essa força
essa coragem
esse orgulho de rei


meu verso meu silêncio minha música!

nunca fujas de mim
sem ti sou nada
sou coisa sem razão


orfeu menos eurídice...
coisa incompreensível!

a existência sem ti é como olhar um relógio
só com os ponteiros dos minutos


tu és a hora és o que dá sentido e direcção ao tempo
qual mãe qual pai qual nada!
a beleza da vida és tu amada


vai ao teu caminho que eu vou-te seguindo
no pensamento e aqui me deixo rente
quando voltares pela lua cheia
para os braços sem fim do teu amigo


vai à tua vida pássaro contente
vai à tua vida que estarei contigo!"
vinicius de moraes

12 comentários:

Lu Soares disse...

...agora que passei, em silêncio, quis fazer algum ruído,deixando-te estas palavras...

"Talvez um toque
… breve, fulgurante,
um afago de sangue, um lastro de barco,
um rio de riso, um manto de gelo
… quebrado,
um brilho líquido de diamante.

As sombras, o escuro e o perfil de um instante.

Talvez o canto!"

Beijinhos,

Lu

Vicktor Reis disse...

Querida Ivone
Vinicius é único e a tua escolha de grande sensibilidade. Partilha bonita esta...
Vinicius foi um homem de vida vivida, que ainda tive o prazer grande de conhecer pessoalmente (saravá Vinicius!!! tilitando dois copos de uisque)donde ainda mais válida a sua mensagem de optimismo e esperança agora em tempos de Lua Cheia.
Saravá Vinicius!! Saravá Querida Ivone!!

alexandrecastro disse...

uma belissima escolha...beijinho alexandre

Amaral disse...

Simplesmente maravilhoso este monólogo de Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim.
Ouvido, então, o poema toma proporções maiores, de quão forte é...
A tua escolha merece parabéns!

Luís Galego disse...

meu verso meu silêncio minha música!

o dia começou melhor, o primeiro e único blog da manhã. Obrigado!

P.S Relativamente ao seu comentário no meu post sobre o último romance de Rosa Lobato faria, talvez não me tenha feito entender. O meu perconceito não era relativo à homosexualidade, pelo contrário, mas sim relativo à autora.

Anónimo disse...

Olá, que qualidade, gostei de ler, um abraço...

ivone disse...

lu
talvez
eu não queira ser
talvez
não queira ir
talvez
não me apeteça ficar
talvez
não me apeteça partir
talvez...
bj

ivone disse...

amigo victor
tens de me contar pessoalmente claro esse momento único de teres estado com o vinícius.
um dia destes...sim?
saravá querido victor!

ivone disse...

alexandre
belíssimo é o texto...limitei-me a ir ao meu baú de letras e trazer para aqui o que me vai na alma nestes últimos dias.
bj

ivone disse...

amaral
também tenho o texto no álbum de vinícius 90 anos...e dito por ele acompanhado por viola sempre que o ouço transbordo de vida.
bj

ivone disse...

luís
meu verso meu silêncio minha música!
dou por mim a dizer isto em voz alta como quem canta como quem chora como sem sofre como quem vive.

ivone disse...

sal

a qualidade é de moraes...
volte sempre.