6.9.08

as coisas pessoais nunca se dizem escrevem_se ou amam_se

e por serem da pessoa nunca de devem dizer










as coisas pessoais nunca se dizem. escrevem_se ou amam_se


























"agora que não estás deixa que rompa o meu peito em soluços!
te enrustiste em minha vida e cada hora que passa
é mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo em mim...
e sabes de uma coisa?
cada vez que o sofrimento vem
essa saudade de estar perto se longe
ou estar mais perto se perto
que é que eu sei!
essa agonia de viver fraco o peito extravasado
essa incapacidade de me sentir mais eu orfeu
tudo isso que é bem capaz de confundir o espírito de um homem
nada disso tem importância quando tu chegas
com esse contentamento essa harmonia esse corpo!
e me dizes essas coisas que me dão essa força
essa coragem
esse orgulho de rei
meu verso meu silêncio minha música!
nunca fujas de mim
sem ti sou nada
sou coisa sem razão
orfeu menos eurídice...
coisa incompreensível!
a existência sem ti é como olhar um relógio
só com os ponteiros dos minutos
tu és a hora és o que dá sentido e direcção ao tempo
qual mãe qual pai qual nada!
a beleza da vida és tu amada
vai ao teu caminho que eu vou-te seguindo
no pensamento e aqui me deixo rente
quando voltares pela lua cheia
para os braços sem fim do teu amigo
vai à tua vida pássaro contente
vai à tua vida que estarei contigo!"







vinícius de moraes



































preciso aprender a lidar com a morte.
com quem parte e me deixa assim triste. e mais só ainda.
impressionante como ainda não consegui deitar uma lágrima só que fosse. antigamente lançava-me em choro. hoje já aprendi a lidar com a dor.
mas eu sei que vou quebrar. tenho de quebrar. preciso de quebrar.
a sensação de perda é vazia. oca. e enche-me de luto.
faz-me lembrar um poço sem fundo. e eu procuro bem lá no fundo o que não quero perder. mas como encontrar uma perda sem fundo?
não admito perdê-lo. recuso-me a perdê-lo.




na sexta à noite recebi o telefonema. "tens de ir ver o pedro. já não fala. se queres vê-lo com vida tens sábado e domingo. o tempo encurta para ele."
mas eu não quero ver o pedro assim. quero ver o pedro como quando o conheci. tinha eu catorze anos e ele dezassete. o pedro era tão bonito que me sufocava. vi-o pela primeira vez no alentejo. na aldeia onde nos cruzávamos em tempo de férias. costumávamos dar longos passeios à noite pela estrada. naquelas noites quentes de agosto que parecem constar no calendário porque tem de se cumprir o amor. sentávamo-nos nuns bancos de pedra à beira da estrada e ficávamos a conversar. ainda guardo comigo o cheiro do perfume que ele usava. o arrepio que me dava sempre que a mão dele envolvia a minha cintura. e o sabor que tinha a boca do pedro. nunca mais encontrei um sabor de boca assim. nem nunca mais provei a do pedro.




na estrada houve uma vez um abraço que só me vai largar quando eu morrer também. o tempo parou com ele. não havia mais nada além de nós os dois. e era eterno. fizemos juras de amor para sempre. e eu cumpri. costumo ser fiel ao que prometo. transportei-o comigo durante estes anos todos. porque todos estes anos nunca deixei de o amar. por isso não me quis despedir. jurei a mim mesma nunca lhe dizer adeus.
e continuo a cumprir.





















nunca mas nunca te vou dizer adeus mas sempre um até já










há coisas pessoais mas tão pessoais que por serem especiais não se dizem nunca se escrevem e jamais se ouvem. amam_se.
















ao pedro paixão




escrito a vinte e cinco de setembro de dois mil e sete

10 comentários:

O Profeta disse...

Que dizer de tão sublimes impressões!?...Um dia gostava de conhecer o corpo que guarda tão liminosa alma...


doce beijo

_E se eu fosse puta...Tu lias?_ disse...

Sarava!

"Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão"

V.Moraes



Amei e escrevi-o!



Já tinha saudades tuas;)

beijinhossssssss

Anónimo disse...

Vou passando, sempre. Lendo. Sentindo.

Moon_T disse...

há de facto coisas que nao se dizem, nem se escrevem até.
mas sentem-se tanto.


deixo-te:

"..."

A Coração disse...

Não gosto da morte, não entendo a morte, não sei lidar com ela e acho que nunca a vou entender, nunca vou conseguir lidar com ela. No fundo, acho que também não quero saber lidar com ela.

Fazê-lo seria mergulhar num círculo vicioso de perguntas.

Unknown disse...

sim...
há coisas pessoais, tão pessoais de tão especiais, que amá-las é a única forma de lhes dar vida, de lhes Ser vida...

e pendurado nas reticências das palavras esse "até já", que nos une e nos separa de quem amamos...

há coisas que não se dizem, não se escrevem. sentem-se e ama-se...

um beijo de coração*

oldmirror disse...

Tens escrito, presume-se que não amas...


sinais-de-fumo.blogspot

Unknown disse...

... porque o silêncio por vezes é a sinfonia que mais se pode sentir ...

imensamente profundo, este sentimento para que qualquer palavra se consiga transmitir em toda a sua plenitude... sim... por vezes as coisas pessoais... são tão isso... que não se dizem. não se escrevem. amam.se e sentem-se... talvez transbordem pelo olhar como uma cascata só visível aqueles que se dignam a parar para olhar.... e não se importam de esperar para ouvir. entre os silêncios do tempo.

um enorme beijo.

Anónimo disse...

Gosto de amar e dize-lo com escritas.Ainda que tolamente. A sensação de estar aqui é silenciosamente boa.

D.

ivone disse...

profeta
a minha alma é pequena mas grande para tamanho amor. o corpo esse consome_se e some_se a cada dia.
"Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada."


tu lias?
sarava! para ti também
meu adorado v. moraes para ti também:

"Resta essa faculdade incoercível de sonhar,
de transfigurar a realidade
dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é
e essa visão ampla dos acontecimentos
e essa impressionante e desnecessária paciência
e essa memória anterior de mundos inexistentes
e esse heroísmo estático
e essa pequenina luz indecifrável
a que às vezes os poetas tomam por esperança."

arion
o importante é sentir sim. se um dia passares por aqui e não o conseguires errei. erro meu. desculpa.mas se eu sinto e sinto_o na escrita é quase impossível não se sentir aí também.

moon_t
em coisas que nunca se dizem. tem outras que tardam em se dizer. e ainda tem aquelas que tardam mas acabam por ser ditas.nada como a palavra para traduzir o que nos vai na alma. tem outras coisas claro. a pintura. a música. o amor. talvez quase tudo o que mais prezo na vida. tem outras. a liberdade. um bom amigo. uma boa paixão. mas é nas letras que nestes últimos tempos me agarro de corpo e alma.
e não me deixes assim sff


diana
linda diana de olho claro
vou_te contar uma história minha que me lembrei quando li o que me deixaste. quando tinha a tua idade sentia e pensava tal e qual como tu. hoje em dia claro que não. e digo claro porque a melhor receita para aprender a lidar com a idéia da morte é estarmos frente a frente com ela. não quero com isto dizer que foi o meu caso. mas de duas pessoas que me foram muito queridas em vida e que vi partir à frente. na primeira vez a coisa doeu_me tanto mas tanto que não te consigo dizer por palavras o sofrimento que isso me trouxe.não se explica tem de se sentir para se saber o que é. na segunda a partida foi mais dura ainda porque assisti ao vivo e cores. coisa impensável por mim enquanto viva. esta terceira foi distante recusei_me a assistir. chega de mortes. como vês são muitos aqueles de quem gosto bastante e que me deixam para trás. a terceira morte não foi morte para mim. nunca o será. porque transporto_o comigo todos os dias. ainda vive em mim. e só se morre quando deixamos de sentir assim.


liliana
"que amá-las é a única forma de lhes dar vida, de lhes Ser vida..."
e se continuo a amá_lo continua_me vivo

oldmirror
"Tens escrito, presume-se que não amas..."
errado.
para conseguir escrever tenho de conseguir amar odiar gostar detestar . umas vezes mais que outras. outras menos e ainda outras assim assim mas tenho de sentir senão não sou capaz de vomitar letras no papel.com indiferença nunca. impensável tentar fazê_lo quando nada se passa cá dentro.


baraújo
sabes que algumas vezes essas coisas tão pessoais que só se escrevem ou amam saiem_me em choro?
um dia escrevi isto:
sentei-me em frente ao mar como que num acto de submissão. confesso-me. queria ter chorado. não o consegui.
salgada por salgada já tenho a água da maré. para quê querer a das lágrimas?
e cada vez mais me é mais díficil chorar. o choro por ser tão pessoal é especial demais às vezes para desperdiçar sózinha. há que partilhá_lo também. mas esse não se escreve desenha_se...e ama_se.

d.
" tens o coração fechado..." disseram-me. ao qual respondi de imediato: " a sete chaves!"
como posso ter dito isto se é uma pura mentira!? e eu não costumo ser mentirosa só omito a verdade.
devia ter respondido:" para si claro que sim." sempre.
mas tenho-o aberto para todo o resto do mundo para quem me quer bem e até para alguns que não me querem de todo.

e é quase sempre neste acto de contenção que me privo em amor.mas quando não me contenho gosto de dizê_lo bem alto na minha escrita. e silenciosamente sim.