
sophia de mello breyner


seguro_me no fino fio que me prende ainda ao princípio do fundo do mundo
e fico à espera de um dia chegar ao cimo
é de silêncio a minha paixão
sophia de mello breyner
com uma mão cheia de nada e a outra de coisa nenhuma
acho que os meus dias não passam de isso mesmo. de mãos vazias que sonham.
levanto_me já perto da tarde. tropeço pelos corredores até encontrar os estores para abrir o dia. a transparência da janela protege_me do calor que faz lá fora. teimo em manter_me fria. o pacote de leite também. já somos dois. adormece_me ainda mais o não sair. transporto_me até à mesa onde o café duplo me espera. após o primeiro cigarro do dia teimo em não querer acordar. à espera do nada ou de coisa nenhuma arrasto_me até ao sofá. acabo por optar mais uma vez em continuar a permanecer adormecida.
pior que não gostar de acordar é querer continuar adormecida.
como num desejo de sonho.
à margem de pedro ayres magalhães
há conversas inúteis como os dias de chuva. em que não apetece sair de casa porque lá fora está agreste. o céu carrega_se de cinzento e o piso molhado agride o sentido do atalho por onde tropeço em pequenos lagos.