2.9.08

e tu que me dizes se te disser cala_te?

assim existes_me












será que vou morrer? pergunto dentro de mim
será que vou morrer? olhas_me e só tu sabes


































fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.




josé luís peixoto

















































































se eu existisse iria escrever_me assim completa sem sequer saber porquê. escrever_te inteira sem me importar de nada. só por te saber desse lado é como se te inscrevesse em mim. e assim o faço. são monólogos extensíveis a duas vozes em que as partes tudo se dizem.e nada. a minha aqui que a faço com a outra minha aí que me responde. assim existes_me.


fazer de conta que se existe sem sequer tão pouco apetecer andar por cá muito menos por aqui. nem lá. onde te encontras calado mas que te fazes ouvir surdamente sem dizer absolutamente nada de nada.
fazer de conta que me olhas quando descaradamente me escondo em abecedários incompletos de a a z sem sequer passar pelo o. ou pelo i de ti.ou pelo eme de mentira. de mim.

o inventar existir quando tudo se é e quase tudo se deixou para trás. nada. ou quase. tudo.


e tu que me dizes se te dizer cala_te?













ao oldmirror
que não conheço
e se calhar
tão bem conheço
ou não conheço nada












































fotos de kaveh h.


.

7 comentários:

oldmirror disse...

Embaraçado agradeço e






calo-me.

Graça Pires disse...

"e tu que me dizes se te dizer cala_te?"
Digo que amo tanto o silêncio como amo as palavras. Digo que gostei do poema do José Luís Peixoto e do texto que se segue porque têm palavras e silêncios.
Um beijo.

Unknown disse...

e o silêncio é eternidade...
a palavra apenas tempo...

bjinho*

ivone disse...

oldmirror
o calar não é não falar
há muita maneira de se falar
uma delas pode muito bem ser assim calando_se
e fala_se por vezes muito mais


graça
obrigada pelo teu dizer e partilha em se calar também


moon_t
reticências sim e porque não?
os pontos finais assustam_me

liliana
e tudo é efémero

Unknown disse...

como sempre um execelente pedaço de escritos de alguem... que tão bem sabes escolher...

continuo com a musica do meu blog a dar e repetir vezes sem conta como a saudade de aqui vir...

calar... ou não falar... de tudo um pouco tem. de tão pouco semelhante é...

não falar por opção... até pode ser sinal de inteligência. indo buscar provérbios chineses e afins.

calar por ordenação... é o que é. e nao deveria ser... por vezes!

beijo terno.
e nc te cales. nem q seja o teu olhar a falar por ti

Moon_T disse...

nao foi colocada foto nem som como de costume porque a ideia era susceptivel de corromper a "crueza" do texto... foi propositado.


...mas mesmo assim...pequei?
sou pecador :)

ivone disse...

moon_t
pensei nesse hipótese a propósito...

quem nunca pecou que atire a primeira pedra!
e quem peca tem as portas do céu fechadas. vais arder eternamente nos infernos...tal como eu.