25.1.09

este maldito terror de te amar












leio o amor no livro
da tua pele demoro_me em cada
sílaba no sulco macio
das vogais num breve obstáculo
de consoantes em que os meus dedos
penetram até chegarem
ao fundo dos sentidos
desfolho as páginas que o teu desejo me abre
ouvindo o murmúrio de um roçar
de palavras
que se juntam
como corpos no abraço
de cada frase
e chego ao fim
para voltar ao princípio
decorando o que já sei
e é sempre novo
quando o leio na tua pele.



nuno júdice
braille in geometria variável pág. 79








terror, grande medo pavor pânico dificuldade o que mete medo














agora me lembro que tinha marcado uma conversa contigo. adiada temporariamente porque não se poderia conversar. agora me lembro que tinha algumas coisas para te dizer. mas como se não se dizem essas coisas? proponho_te então o nada se dizer. deixar apenas correr o que me vai no corpo apesar de tudo o que me dói agora. dói_me a cabeça dóiem_me os olhos de não te ver dóiem_me as mãos de não te ter dói_me a boca de não te saber e dói_me o juízo sem perceber muito bem porquê.

quero lá saber de quem agora tens aí de lado. a verdade és tu a vontade és tu o desejo és tu. isso sim quero saber.

entras_me assim sem mais nem menos ao final deste tempo todo como quem não quer nada limpas os pés no tapete da entrada como que querendo apagar memórias que nos custam acreditar ser verdades entras_me assim pela casa dentro disfarçando medos e vontades e eu com terror de te amar fecho_te cá dentro encosto a porta por detrás e deixo_te deitar na minha vontade de te querer muito de uma só vez por entre murmúrios mal apagados que se prolongam pela madrugada. não se dorme. é tempo desperdiçado. aqueces_me a pele com todas as letras que ficaram por dizer sete anos antes de te abrir a entrada e te deixar sentar no meu abraço de mãos abertas e boca calada ficas_me assim como quem não quer nada mas deseja no fundo o direito de me amassar a roupa limpar a língua e se espreguiçar na minha almofada onde não há ainda pele nem suada nem maltratada nem marcada. é então que te tapo a boca em beijos por não te querer ouvir dizer nada. deixa_me só ter assim o teu céu pela madrugada. abraço_te sim com tanto terror de te amar. entras_me sem nada se precisar explicar e sais_me de repente pelas portas do fundo da casa como quem não quer mais nada.

este maldito terror de te amar.










fotografias de macrolepiota

8 comentários:

pin gente disse...

ficou tanto por dizer
tanto... ou talvez não!
o que ficou foi por ouvir
sim, é isso!
gostaria de te ter ouvido dizê-lo,
tanto!
o tempo ferve-me
rói-me
corrói-me
devora-me as palavras
e eu falo, falo, falo
sem te ouvir!
o tempo magoa-me
dói-me
mata-me
banha-me no sangue da língua
e eu beijo, beijo, beijo
sem me beijares a mim!


um beijo

ivone disse...

luísa

calo_me
para que mais uma vez me ouças
proponho_te então
o não falarmos
o deixarmo_nos ir
assim
sem saber muito bem para onde
nem para quê
o sairmos por aí
sem nada dizer
sem nada falar
calo_me
para que mais uma vez me ouças
o que tenho para te não dizer

e abraço_te

Eme disse...

Sem fôlego. e não é de terror que este terror é incrivelmente
s e d u t o r.

e mais nada.

Unknown disse...

terror de amar
terror de amarrar
terror de largar
terra árida
terra úmida
beijos quentes
beijos no ar
beijos no tecido rasgado
beijos e terror
terror e beijos
e quase esqueço
do meu terço
de oraçõee
que nunca
cometo

Luis Eme disse...

fico-me pelo silêncio da paixão...

Freyja disse...

Cara Ivone,


Lindíssimo excerto e excelente dissertação sobre aquilo, aquele terror terrível.

Posso-lhe dizer que sorri, discretamente ao ler as suas palavras. Posso dizer que me esqueci do cigarro que ia fumar. Posso também dizer que parecia que me lia a mim...
Esta sensação foi muito estranha. Tipo espelho. Às tantas dei por mim a pensar, será que fui eu que escrevi isto?!
Poucas são as vezes em que fico na dúvida de quem escreve o texto, mas este cara Ivone, foi escrito efectivamente com o sal do terror de amar, aquela essência universal de quem põe as entranhas de fora.

De facto, calo-me para que ouças aquilo que eu tenho para não te dizer.

Ivone, quase que faço um filme mudo...

Um Beijo,

ivone disse...

m.

e mais nada! mesmo nada. nada de nada. acabou_se tudo. resta_me o nada. sempre é alguma coisa.


inominável ser
terror
terror
terror
terror
terror
terror
terror
terror
e
terror
e mais
terror
e ainda
terror muito
terror
imenso
terror


luís eme

também me fico pelo silêncio e não quero mais paixão. basta!



freyja

acendi agora um cigarro propositadamente para a reler.sabe que mais? é sempre gratificante ter o imenso prazer de nos conseguirmos ler em alguém quanto mais não seja para nos conseguir dar a volta ao estomago para nos sentirmos vivos.depois depende: ou se retem o que queremos que fique cá dentro ou vomita_se de rajada porque as náuseas são tantas.e venha o filme mudo! agradece_se!

beijos

Unknown disse...

nao tenhas... simplesmente nao tenhas terror de amar...
é uma dádiva...

o terror que por vezes existe é o de não ser amado...

mas é uma dádiva... amar.. acredita...

adorei as imagens... mesmo

beijo [E] terno