19.1.09

post scriptum















prémios à parte há que lembrar o cru do dia. não vou citar escritores nem poetas nem críticos nem outros. hoje o caso é bem mais grave. vou citar_me a mim. quem por aqui anda e me conhece bem vai conseguir ler_me nas entrelinhas. para isso não preciso ser clara. estar obscura faz parte de mim. finalmente um motivo para ter de escrever. é este. o inferno de ter que se viver. o desta gente que diz que gosta e depois do não se querer. este permanente inferno de ter de viver. o pensar que sim sim senhora apesar de não se acreditar não senhor e depois por fim ter a certeza da dúvida. desgastante ser. dizer que se cansa destes dias assim sem aparecer. pois a grande questão reside precisamente e uma vez mais naquilo que insisto faz muitos anos. o silêncio. da paixão. consome_me o juízo e o sentido. essa voz sem ter som que me azucrina e me fez criar isto. esta casa onde nada se diz e quase nada se escreve. com tanto para dizer. com tanto por se dizer. é este o inferno de ter que se viver. finalmente tenho um motivo para me escrever.
















post scriptum: há coisas que tinha escrito mas que não vou dizer aqui. foram quatro páginas inteiras. decidi não torná_las públicas. são minhas. nada têm os outros a ver com isso. decidi não te dar o prazer de as ler. nem a ti nem a mais ninguém a não ser eu.esse prazer de se ler o que se sente em mim só eu o tenho. egoísta? talvez. nem as quero tão pouco falar um dia. não vale mesmo a pena. a pena tenho_a eu de as ter escrito sem tas dar a ler. mas chega de joguinhos. chega de lamentices. são coisas minhas secretas que faço questão de não partilhar. não há prazer que limite a escrita. esse escorre_se na tinta em mim. e sente_se quente na pele. não basta de feridas.sem elas não consigo dizer.mas lido tão mal. dóiem a doer. a valer. apesar de se escrever hoje e agora amanhã apagam_se todas sem ser de vez. para quê então dar a conhecê_las? esquece_se pois então. de que vale escrevê_las? depois de as estampar na página deixam de ser minhas. são de quem as lê. há nisto tudo uma tentativa inválida de transferência de dores. mas é assim que tento ver_me livre delas. não será a melhor maneira muito menos solução para me desfazer delas mas é a única que de momento tenho. surpreendidos? eu também.ou não. é isso no fundo que me move a escrever. quando as passo ao papel passo_as aos outros. eles que chorem. eles que sofram.

e sabes que mais? quero lá saber de ti. sabes o que me ocorre dizer_te agora? vai à merda! e eu também.








fotografias de cristian sallai

8 comentários:

Freyja disse...

Cara Ivone,


Acho que esse processo de escrever para nós mesmos é como se fosse um processo de transferência, como refere no post, até ao dia em que se consegue depositar tudo aquilo que, publicado precocemente, nos faria sentir nuas em plena rua...
Só não lhe chamava egoísmo, mas sim de instinto de auto-preservação.
Mais de metade, bem mais de metade, dos textos que escrevo não os publico. Ficam enrolados ao caderno dos "deveres" e muitos deles nem sequer chegam a conhecer a luz do dia. Outros, menos intensos nos sentimentos que para lá regurgito, quando me despego deles, publico-os.

È um processo de cura...

Como a percebo cara Ivone...



Um bem haja e continue sff! ;)

Beijo,

ivone disse...

freyja

"é um processo de cura...". tem toda a razão. verdade pura admito. estamos doentes.mas em vez de tomar aspirina benuron ou outra droga qualquer agarramo_nos à escrita.é uma droga também. a nossa.e uma defesa. esta a das palavras. sarar feridas sem álcool. anestesiar dores em tintas. eu gosto deste inferno assim.queimo_me e deixo que me queimem.mas também lanço fogo de vez em quando. e quem o não faz? e é egoísmo sim. deixar que isso só aconteça connosco.os outros que se cuidem porque não têm caneta a que recorrer. salve_se quem puder. quem não tem a quem escrever.

Unknown disse...

escrever, não é apenas um lavar de alma, não é apenas um aliviar do coração, ou uma tatuagem na pele dos sentidos que sem sentido se preservam no nosso inconsciente...

escrever... torna-se um vício... como aquele copo de vinho que reluz ao som de uma vela que dança inquieta... como o aflitivo sufoco do cigarro que queima o tempo...

a palavra é uma arma poderosa, muitos foram mortos por não terem receio de a usar, há os que a mantêm num silêncio, ao contrário dos tolos que a desperdiçam e não dizem nada...

a palavra escrita é como um cavaleiro a cavalo... em que a caneta é a espada, a tinta o ccavalo e o papel o brasao guardado no escudo!

quanto ao escrevermos para nós ou para os outros, tudo depende dessa mesma palavra. O mostrar aos outros é um gesto de partilha, abençoado aquele que tem direito de a ler. se a guardas para ti. quem te condena? tens todo esse direito! ninguém te censura...


beijo [E] terno

Moon_T disse...

merda

Unknown disse...

Inomináveis Saudações, Ivone.

O Escrever é O Ato Maior Do Ser, pegamos as chaves de nossos quartos interiores, abrimos a todos eles, fincamos nossos pés em seus pisos, nos deitamos nas camas neles disponíveis, sonhamos, acordamos, sonhamos, acordamos, Sonhamos, Acordamos...

É processo de auto-conhecimento.

É processo de puro-desdobramento.

É processo de alto-desvelamento.

É processo natural-bio-espiritual que nos transforma, nós-escritores-e-poetas-e-narradores-de-sonhos-e-pesadelos, em Animais Da Escrita.

Deliciosa escrita neste vosso blog, Ivone, voltarei sempre aqui.

Saudações Inomináveis, Ivone.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

» não há prazer que limite a escrita », direi também da sua força mortal ou de salvação ou de resguardo...
A pura intensidade de desbravar cerce as palavras torná-las quase nuas e silenciosas ....
INTENSIDADE!

abraço
_______________ JRMARTO

Eme disse...

entre o dardo e hoje perdi-me na escravidão do tempo.
escrever é.. falar com uma espécie de deus do verbo. ou confidenciar à porta fechada e isso dá-nos certos direitos.

Beijo Ivone

Anónimo disse...

Querida Yvone...é...de vez em quando volto cá e dou-me o direito de te ler e de deixar entrar em mim as tuas palavras, os teus sentimentos...a tua paixão,ainda que em silêncio.Continuas inigualável,poderosa, imponente.Obrigada por continuares a partilhar comigo,connosco, esse dom maravilhoso a que me habituei a procurar quando preciso de ver coisas bonitas e profundas.É assim como escreves...com profundidade.
Um grande beijo

Lu